quarta-feira, setembro 26, 2007
The Police
Fantástico. Um serão único,cheio de boa música e boa energia, num ambiente em que a banda se diverte tanto quanto nós, um público entre os 7 e os 77 anos.
Obrigada pelos momentos em que fizeram renascer (e recordar) a essência dentro de nós!
Absolutamente LIIIINDO!!!!!
segunda-feira, setembro 24, 2007
A caixa
Soube imediatamente o que tinha nas mãos, quando agarrei aquela caixa antiga e gasta pelo tempo, perdida entre albuns de fotografias repletos de teias de aranha e pó, no velho sotão revestido a madeira da casa grande, como lhe chamávamos.
Não era como eu imaginava, em veludo vermelho, reluzente, como o esplendor do seu conteúdo, contado tantas vezes pela voz da minha avó, cujos olhos cansados regressavam ao brilho dos 17 anos, sempre que falava nessa história.
Era uma história igual a todas as histórias que fazem as meninas sonhar. Um amor antigo, único, perfeito, que não se concretizara, perdido nas desventuras habituais do coração. E que, antes de se desvanecer,tivera os sumarentes beijos escondidos, bilhetinhos secretos, abraços quentes nas noites de luar e, claro, as rosas vermelhas.
Apertando a caixa, que afinal era em metal, com desenhos antigos de dois amantes, apagados pela ferrugem, eu fechei os olhos, relembrando as palavras da minha avó.
- Com ele partiu o meu coração e a minha juventude. Ficou uma caixa, com um retrato que me fez, 2 cartas de amor, e 6 rosas vermelhas. E a vida continuou.
Cresci com a lembrança daquele amor único, que não era o meu, mas que me arrebatava o coração para a fuga nas noites de luar, como se os beijos escondidos debaixo da janela fossem para mim.
Agora, com aquele tesouro nas mãos, sabia que tudo fora verdade e não mais um devaneio de uma velhota senil que, segundo o meu pai, nada mais fazia que não encher-me a cabeça com ideias aparvalhadas que me paravam o cérebro.
Quis abri-la. Cheirar o perfume do amor, nas rosas vermelhas, e ler cada carta como se a doce carícia das palavras ardentes fossem dirigidas a mim. Olhar o retrato da minha avó, cujos traços haviam sido desenhados pela mão da paixão avassaladora e deleitar-me no encanto das memórias.
Mas não era a minha história. Não eram os meus segredos, as minhas fugas da cama para os braços do meu amante. Não era o meu rosto desenhado. Não eram as minhas rosas.
Eu abriria uma caixa velha e encontraria, provavelmente, um rolo de papeis amarelados e baços, comidos pelas traças e pelos anos. Encontraria um retrato cujos contornos teriam sido esquecidos no papel. E encontraria rosas secas, sem a cor e a frescura do amor.
Abrir a caixa? Não. Mantê-la assim, fechada entre as minhas mãos, de olhos fechados, ouvindo as ternas palavras da minha avó e inspirando o aroma das rosas. Nessa memória,estaria a essência do seu amor.
segunda-feira, setembro 17, 2007
sexta-feira, setembro 14, 2007
Perspectivas...
- Não posso acreditar que me fez uma maldade dessas, avó Chica!!!! - exclamou zangada.
A anciã, que já era velha quando Clara nascera, encolheu os ombros. Baixou o olhar, embaraçada, enquanto sacudia pó inexistente do avental gasto.
- O que é que queres, filha? O rapaz anda desesperado,não pensa em mais nada senão em ti.
- E por isso encomenda-lhe feitiços!!!! - resmungou a jovem. - Se ele pensa que isso muda alguma coisa...
A avó Chica olhou-a com expressão reprovadora e continuou o seu caminho.
Clara voltou para dentro, ainda furiosa e triste com a situação. Porque é que todos a recriminavam? Não poderia ser ela a dona do seu destino?
... cheiro de caramelo
Era assim o Verão na Ilha de Faro. Nada de silêncio,maresia e paz. Ali, ouviam-se os 718 aviões diários, que levantavam vôo à distância de 3 km, o roncar ensurdecedor dos carros,à hora do almoço, com lisboetas de férias à cata do famoso arroz de lingueirão e os gritos incessantes dos meus amigos, surgindo na porta de entrada, a cada 15 minutos.
Só à noite, quando o resto do mundo se recolhia, ficava eu e a minha avó, o som da novela da televisão a preto e branco e o cheiro do caramelo que serviria de cobertura à tarde de amêndoas. Que saudade da tarte de amêndoas!!!!
quarta-feira, setembro 12, 2007
Filhota....
O meu coração é que se manteve triste o dia todo....
sexta-feira, setembro 07, 2007
Loucura
Como seria voltar a pensar por si mesma? Sorriu, perante a ideia de se passear pelas ruas da cidade, com as meias de vidro rendadas a surgir por baixo do minúsculo vestido azul, dizendo tudo o que lhe surgia na mente.
Provavelmente, todos se afastariam, franzindo o nariz. Sim, porque ouvir a loucura pela manhã faz, por certo, comichão no nariz. Mas estava plenamente decidido.
Tomou um duche e aprontou-se como se para uma festa. Abriu a janela, permintindo ao vento fazer-lhe festas no cabelo.
As nuvens cinzentas anunciavam um dia instável e escuro. Dia de guarda-chuva, diriam os outros. Sorriu novamente. Ela, se levasse algum, seria um guarda-chuva de chocolate. Nessa manhã, a vida sabia-lhe bem...
quinta-feira, setembro 06, 2007
Palavras a cores?...
Por vezes,a música na igreja fazia-a sorrir,imaginando o casal de noivos a sair ao som dos sinos, juntamente com os alegres convidados, num rebuliço total.
Era uma festa, poder deitar-se ao sol e sentir a pele bronzeada a aquecer e os folhos da sua saia dançando com o vento. Se fechasse os olhos e imaginasse um sonho, ainda assim não seria mais belo do que a sua realidade.
...ou a preto e branco????
Saiu para a rua,com o casaco russo e as botas enlameadas,embrenhando-se na rua alcatroada e suja,iluminada pelo fraco e único candeeiro existente.
Os prédios em obras inacabadas,cheios de lixo e solidão, pareciam caveiras naquela cidade fantasma.
segunda-feira, setembro 03, 2007
O Ludo
sábado, setembro 01, 2007
Com um pedaço...
Olhei-o, toquei-o, cheirei. Mole e suave. Odor? Não tinha cheiro, ou seria eu incapaz de o respirar? Senti-me, insegura, menina assustada. Ainda assim, brinquei. Peguei-lhe, num suave embalo de vida e cor.
Moldei-o nas minhas mãos, pintei-o com as cores da minha tela. E, por fim, adormeci, na maciez efémera da minha imaginação.
Despertei mais tarde, acordando para um nada que agora era algo. Modelei-o eu, mas surgia em si mesmo como uma única forma, uma ideia, um universo ao meu redor.
Senti-me fechada num universo que tinha sido construido por mim.