segunda-feira, outubro 29, 2007
O Poço das Sombras
Saiu ainda há pouco, mais um daqueles livros que me leva para fora do tempo e do espaço, me faz esquecer do mundo lá fora e me acende uma pequena e (des)conhecida chama.
Memórias de fada? Alma de adolescente?
Talvez, mas faz-me sonhar e sorrir... e eu não resisto a nenhuma das duas coisas.... :)
sexta-feira, outubro 26, 2007
O elo quebrado
Se era fácil? Não. Ele tivera sempre o dom de viver perigosamente. Onde havia sarilhos, ele seguia o rumo.
Ela não. Era mais calma, serena. Abria-lhe os braços e escondia-o do mundo, quando tudo parecia dolorosamente insano.
Ela conhecia-lhe os pesadelos nocturnos, os pensamentos mais obscuros. Sabia ler-lhe as entrelinhas, os silêncios profundos, as fugas à realidade. Estava com ele. Amava-o. Sabia que o amor era construído assim, entre risos e lágrimas, entre sonhos conjuntos, degrau a degrau.
Existia um elo. Invisível para os outros? Talvez, mas ela sentia-o em cada instante em que os seus olhos pousavam nele.
Um dia ele partiu. Outro amor, outra aventura, outro perigo. Ela ficou. Só, destroçada. Irreconhecível.
Levantou-se. Mudou de casa. Mudou de vida. Ainda o sentia na pele, no bater do seu coração. Esperava que ele regressasse, como nos dias em que lhe abria os braços. Existia um elo invisível. Conheciam-se há 20 anos. Conheciam-se.
Ela fez anos. Passara os últimos 11 aniversários junto a ele. Só a ele. Existia um elo que era só dos dois. O telemóvel foi dando os apitos das habituais mensagens de parabéns. Agarrava cada uma delas como uma esperança, que se convertia em desilusão. O dia passou.
Despertou no dia seguinte com um "bip". Agarrou o telemóvel. Mensagem dele.
"Preciso que vás ao tribunal. Há lá qualquer coisa marcada, mas não consigo perceber o que é. Agradeço imenso. Adeus."
Fechou os olhos, rindo, para não chorar. Às vezes, não existia absolutamente nada.
Quase perfeito...
Passear pela Baixa de Lisboa.
Comprar um livro.
Ir ver o rio.
Ouvir-me.
Receber um elogio.
Ir beber um copo à noite, mesmo que seja a meio da semana.
Dormir depois de uma conversa intemporal.
Levantar-me com um sorriso.
Passar a manhã na Serra de Sintra, respirar a vida, re-criar-me.
Almoçar a salada mais deliciosa do mundo...
Encontrar uma amiga que não via há muito.
Deitar-me cansada e feliz.
...
E voltar hoje para o trabalho....
terça-feira, outubro 23, 2007
Parabéns!!!
Assim foi contigo. Tínhamos... quê? 12 anos? Faltámos à aula de educação musical porque tu estavas a chorar... e desde então nunca mais deixámos de chorar ou rir juntas...
Iniciámos uma conversa, nesse dia, e tenho a sensação de que quando nos encontramos pura e simplesmente a retomamos, ainda que por carta, telefone, ainda que não nos tenhamos visto nos últimos meses. Acho que os melhores amigos se reconhecem assim... :)
De qualquer modo, sei que foi um ano difícil... sei que perdeste tudo... sei que te tentas reerguer com uma dignidade que causaria inveja a muitos. A mim causa-me admiração e alegria por partilhar contigo esta história.
Sei que o sabes, minha amiga, mas as pessoas têm o estranho hábito de poupar nas palavras e nas emoções. Por isso, o quero dizer... GOSTO MUITO DE TI!!!!!!!
Parabéns e que os 32 sejam o princípio de uma nova e esplendorosa vida!
segunda-feira, outubro 22, 2007
Cansaço
Ando a sentir isso demasiadas vezes....
sexta-feira, outubro 19, 2007
Sobras
Indefinições
Ao longo dos anos apercebi-me, porém (e talvez seja defeito de profissão) de que nada é definitivo, muito menos as definições. Nada é absolutamente bom, ou absolutamente mau. Não existem escolhas certas ou erradas,mas sim pesos na balança de cada um de nós, que pendem para um lado ou para outro.
Apercebi-me de que as coisas que pedimos nem sempre estão alinhadas com as que queremos. E mesmo as que queremos, podem ser fruto do anseio do coração do adulto, ou da carência profunda da criança em nós. Tão ténue é a linha da separação. Julgo-me tantas vezes por não a conseguir discernir.
Faço o que posso para respeitar a alma em mim. Permito-a sentir, expressar-se, ainda que, por vezes, sem voz. Hoje,não me apetecia fazer isso. Apetecia-me não me preocupar com os anseios ou as carências, as ilusões ou as mentiras. Viver como se não existisse amanhã. Será que me daria ao trabalho de pensar tanto?
quinta-feira, outubro 18, 2007
Às vezes...
Às vezes queria abrir a boca para deixar sair o chorrilho de palavras não ditas, emoções não assumidas, gritos presos no fundo de mim.
Mas não chega.
Às vezes precisava que o outro me ouvisse, mais do que qualquer outra coisa. Precisava de ser validade pela presença de quem me dissesse: "Estou aqui. Também lá estive. Foi real."
Precisava que as minhas fantasias tivessem ecoado em alguém. Que o sonho fosse partilhado, para poder deixá-lo partir...
O sacana do Neptuno anda aí, tenho a certeza!!!!!!
O "poblema"
- Se precisares de alguma coisa, estou mesmo aqui ao lado.
30 segundos depois.
- Mamã, se eu tiver um "poblema", posso ir para a tua cama?
- ... Sim, podes. Até amanhã.
30 segundos depois.
- Mãe... tenho um "poblema". Ainda não consegui dormir nada.
Sem comentários.
quarta-feira, outubro 17, 2007
O pescador
- O ti Vicente tem mão d'ouro, para onde manda a cana, é onde eles fazem a festa.
Aqueles homens, enfiados nos gorros de lã, camisas de xadrez em flanela e botas de borracha até ao joelho, pareciam-lhe mais fortes do que os herois dos quadradinhos. Todos os dias enfrentavam o gigante azul, em busca de sustento para a família. Onde existiria maior nobreza?
Foi numa tarde ventosa de Novembro que o barco encalhou na rocha e se virou, jogando os homens ao Mar e, juntamente com eles, o pequeno Vicente, que decidira acompanhá-los.
Não houve perdas, nem feridos. No entanto, os segundos sentidos como anos, passados a esbracejar, para depois vir ao de cima e encontrar o barco virado sobre a sua cabeça, enclausurando-o na mais completa escuridão, encheram de terror o pequeno, que se convenceu de que morrera, antes dos braços fortes do ti Vicente o resgatarem da água e do pesadelo.
A partir desse dia jurou que não morreria no mar e não mais se aproximou deste, dos barcos de pesca ou das camisolas do padrinho. Ouvia as histórias dos homens,mas longe da praia.
A pesca era agora um sonho longínquo, como aqueles dos colegas de escola, que queriam ser astronautas, sabendo de antemão que não passariam do 6º ano.
Passaram-se os anos e Vicente tornou-se um homem. Saiu da escola e foi trabalhar com o pai, na loja de ferragens,seguindo as pisadas dos dois irmãos mais velhos. Era um bom trabalho, honesto, simples, sem a instabilidade da pesca ou dos mares de Inverno. Então, porque é que o seu coração, às vezes, parecia tão vazio que quase não o sentia?
Visitou o ti Vicente, que já não ia ao Mar há muito, num Verão quente e seco, daqueles em que a chuva viaja para longe sem bilhete de regresso. E o pedido do velhinho comoveu-o.
- Leva-me a ver o Mar, filho. Sabes que sozinho já não consigo.
Vicente agarrou no padrinho cambaleante, envolveu-o nos seus braços fortes e, em curtos passos, caminharam até à rocha,de onde se via o Mar.
Foi um instante em que ele olhou para cima, seguindo o voo das gaivotas. Baixou a cabeça e o ti Vicente desaparecera. Caíra, atirara-se, voara? Debruçou-se e viu o velhote esbracejando, a cabeça surgindo entre a espuma branca, numa busca desesperada de ar.
Vicente jogou-se de cabeça, sem se preocupar com nada que não aquele velho ti Vicente, que lhe iluminara a infância.
Ajudou-o o chegar à areia. Vinham os dois sorrindo. Teria o velho feito de propósito? Vicente não o poderia saber? Aquele mergulho, porém, trouxera de volta os seus sonhos.
Hoje sinto-me assim...
segunda-feira, outubro 15, 2007
terça-feira, outubro 09, 2007
Revolvio
Porque fue suficiente
hablarle con los ojos desde allí.
Si en ese mismo instante
su vida era tranquila y feliz,
la vino a revolver con bollitos y miel
Mareas en la tierra,
el cielo iba cubriéndose de gris.
Porque salió el torrente,
el miedo y las ganas de sentir.
Y quiso saborear la masa de su pan.
Revolvió su calor con su voz,
con leche y azúcar se lo dio a beber.
Bordeó el corazón la razón con unos besos de ron y miel.
Horneó con su aliento su pelo,
y caramelo parecía al terminar.
Y quiso saborear la masa de su pan.
Escríbele canciones,
envíale tu voz donde él esté.
Vagando por su almohada
le vino a visitar en sueños él.
La vino a revolver y se dejo hacer.
Estampidas en la tierra,
el cielo iba tiñéndose marfil.
Porque brotó el torrente,
el verbo y las ganas de sentir.
Y pudo saborear la masa de su pan
Él revolvió su calor con su voz,
con leche y azúcar se lo dio a beber.
Bordeó el corazón la razón con unos besos de ron y miel.
Horneó con su aliento su pelo,
y caramelo parecía al terminar.
Y pudo saborear la masa de su pan
Vida
Dito assim, até parece simples, não é? :)
quinta-feira, outubro 04, 2007
Ai, Portugal, Portugal...
Mas quando temos a filha pequena doente, acordamos de madrugada para marcar a estúpida consulta no Centro de Saúde (se é uma urgência,porque raio temos de nos levantar de madrugada para marcar a consulta ao longo do dia? É uma urgência!!!!!) e nos dizem que, como não sabem se o médico vem ou não (ele tem o hábito de faltar ao trabalho sem avisar!!!!????) não marcam consultas, até porque não há outros médicos para urgências....
- Ligue por volta das 13h30 e já sabemos se ele veio ou não. Depois,se houver vaga, marca.
???? O que raios é isto?
E pedem-nos para ir ao Centro de Saúde antes de ir ao hospital....
O mais triste é que um telefonema para a pediatra (aquela a quem pagamos 70 euros por consulta) resolveu a coisa em 10 minutos. Consulta marcada, conselhos dados, problema resolvido.
O que nos vale é que o sistema de saúde em Portugal continua em grande!!!!! Para quê pensar nos milhares de pessoas que não têm 70 euros para pagar e ficam com as crianças doentes,ou rumam para o hospital para esperar horas até serem atendidas, pois não tinham a cartinha do Centro de Saúde????
segunda-feira, outubro 01, 2007
Ser Criança
Depois de uma noite de febre, acordámos para um dia em que - pensava eu – tudo iria melhorar! Então vieram as dores de ouvidos, as fantásticas dores que surgem nos piores momentos e para as quais basicamente NADA ajuda.
Ligar à pediatra, continuar o antibiótico,não esquecer o benuron. Enfim, encher a criança de porcaria e a mãe de preocupação.
A diferença é que, enquanto a mãe mal consegue respirar o tempo todo, perante a sensação de impotência, a preocupação e a ansiedade, há um momento, a meio de toda esta “tragédia”, em que as dores acalmam e começa a dar no Canal Panda (canal exclusivo cá da casa) a música do “Viky, o pequeno golfinho” – não, não precisam de saber qual é!!!!.
- Mãe, podes dar-me os meus sapatos?
- Porquê, meu amor?
- Quero dançar!!!
E eu fui calçar-lhe os sapatos, fitando-a atónita enquanto ela cantava e dançava até a música acabar. Em seguida, voltou a deitar-se no sofá, tranquila. Não há dores, não há stress.
De facto, ser criança é um estado de graça. Elas SABEM aproveitar a vida.