segunda-feira, outubro 22, 2012
Histórias de mulheres
Apagava-se o tempo. Não havia outra forma de o explicar, de colocar a sensação em palavras. Como o Verão que já se apagava da memória, quando os casacos de lã aconchegavam das primeiras noites geladas, algumas histórias sacudiam-se da pele caindo como gotas de chuva, logo absorvidas pela terra. A única marca deixada cheirava a humidade, a despedida, a um virar de costas decidido e perturbador.
"É então esta a sensação do deixar ir." - pensou, num entardecer em que a leveza da despedida se transformou num arrancar pedaços. Um arrancar silencioso, sem extroversão, sem gritos ou choros ou lágrimas. Apenas a sensação de vazio sufocante. Uma memória cravada no peito acerca do que um dia foi emoção.
As histórias deixaram de ser contadas, reviradas em noites de insónia. As
palavras deixaram de ser ditas. Um dia, os cheiros também se apagariam, assim como o som do mar nas noites de Setembro, o sabor horrível da Corona que parecia ser um prazer e que ela nunca entendera muito bem como gostar daquilo, o cheiro da esperança ao por do sol e da entrega na Lua Cheia. Apagar-se-ia a história com o título "assunto inacabado" e ela respiraria aliviada e esqueceria que um dia desejara não esquecer.
E a decisão fora a coisa mais consciente que fizera na vida. Sem dramas.
Somente a parte de si agarrada à poesia sentiria saudades.
"Porque aprendeste que uma mulher fica sempre com um amor antigo cravado no peito. Foi esse o legado das tuas antepassadas. Get over it!" - a voz fê-la rir.
Ali estava ela. Artémis no seu melhor.
Com um sorriso condescendente, puxou a túnica para si, agarrou no arco e na flecha e deu meia volta sobre si.
Sim, o Verão apagar-se-ia da memória.
O melhor era aproveitar o Outono.
Subscrever:
Mensagens (Atom)