Ela conhecia a casa, estivera lá na infância, recordava as empregadas que, vestidas com aventais brancos e toucas na cabeça, passavam a ferro, com o cheiro da comida acabada de fazer a entrar, devido à porta ao lado, que dava para a enorme copa e para a confusão de entrares e saíres.
Naquele momento, porém, a casa tinha a porta fechada, as persianas corridas e ela nem sabia bem o que lá estava a fazer. Mas precisava de ir. Rodou a maçaneta e entrou num aposento escuro, devido ao contraste com a tarde de sol, mas com a luminosidade dourada dos raios que entraram pelos buraquinhos das persianas. Olhou para ele, abismada.
Sentado numa almofada, no chão, perto de uma mesa de mistura, encarava-a com aquele meio sorriso.
- O que estás aqui a fazer? - foi tudo o que ela conseguiu dizer.
Outro sorriso.
- Já passámos por isto antes. Mas era eu que fazia essa pergunta. Respondo-te com as palavras que me dirigias: tu é que vieste cá ter.
- O que é que estás aqui a fazer?
O sorriso morreu.
- Não achaste mesmo que eu me ia embora, pois não? - o olhar mergulhou na sua alma, como dantes. - Não achaste mesmo que desapareceria das tuas memórias como se não tivesse qualquer importância. Tu não "apagas" pessoas, lembras-te? A mim não apagas...
- Estás muito certo disso.
- Assim como tu.
Ela não estava. Não tremia, não lhe disparara o coração, não tinha vontade de o esbofetear ou de lhe cair nos braços. Mas também não escondia o conforto, o calor que a abraçara desde que chegara àquele local.
Ele fez-lhe sinal para se se sentasse a seu lado.
- Agora é a tua vez de me dizeres porque é que eu estou aqui.
Respirou fundo e sentou-se. Não a seu lado. Junto a ele, aninhando-se nos seus braços, como se fosse uma coisa habitual.
- Para me abraçares.
E ele abraçou-a.
16 comentários:
Ui!
É para dar cabo de mim isto?
:/
Não... loool!
:)
Ai.. isto ate faz mal..
Anda aqui uma pessoa sem abracos, e sem miminhos... e ao ler isto fica... melancolica..
Que lindo!
Vou abracar o meu chefe e ja volto.
:)
Bem..., também quero um abraço...
Começo a concordar aqui com a estrelinha e com a Fénix... "oferecer" abraços a quem tem q suportat saudades... não se faz ;)
Mas:
"Não a seu lado. Junto a ele. [...] como se fosse uma coisa habitual."
Há lugares, pessoas assim.
Beijo
Estreliña, LOOOOOOOOOOOL!!!!
Fenix, tens o meu. Serve? :)
izzie, há pessoas assim. Verdade.
Sim!!!
:-)))
:) BOA!!!!
O_O Uau!... De "nonsense" este texto não tem nada, rapariga! É assombrosamente lindo! Toca-nos mesmo lá no fundo. :)
Como eu queria um abraco :(
Bonito, mas infelizmente há histórias com fins muito diferentes... uma coisa é verdade, não se apagam pessoas, embora por vezes se desejasse apagar...
Rice Man, UAU digo eu...
Obrigada!!!! Mesmo!
Miepeee, eu dava-te... pode ser em espírito? :)
Devaneante, esta também não tem bem um final... ou um início... por isso nonsense.. ;)
Meu deus, blogamiga, tu não fazes bem ideia do poder que estas palavras têm em mim! Parece que me adivinhaste...
:)
Espero que tenha sido bom...
O teu texto? Excelente!
O poder das palavras? Infelizmente.... :(
:(
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