Sento-me no banco, junto à janela, com ela, tentando explicar de uma forma suficientemente mágica o que são estrelas cadentes... percebe perfeitamente, digo-lhe que não, daqui da cidade, com as luzes, talvez não consigamos ver estrelas cadentes, porque há muita luz...
Responde-me que não, que vai ver uma estrela cadente e, nesse instante, vemos as duas uma, brilhante, enorme, talvez uma das maiores que eu já vi, e ela formula e seu mágico desejo em voz alta... deixando-me o coração quente. O Universo continua a dar-lhe tudo o que pede e, ela e ele, continuam a ensinar-me lições importantíssimas.
Respiro a brisa fresca da noite, a primeira, depois deste dia em que destilei horas a fio... e sinto o Verão a invadir-me... sempre adorei o cheiro do verão ao cair das noite. Sou levada pelas memórias do tempo para uma altura em que era eu que tinha a idade dela e o meu pai agarrava numa manta de retalhos e levava-me com ele para a praia. Ali ficávamos, deitados, olhando o céu e sentindo o absoluto sobre nós. Era tão maravilhoso quanto assustador.
Mais tarde, em volta de uma fogueira, o grupo de adolescentes prometia que passaria a noite em claro para ver a chuva de estrelas. Depois de muito riso e chouriço assado no pão, a promessa começava a desvanecer-se. Nessas noites, nunca passei das duas da matina. O sono tornava-se mais forte e eu rumava a casa, que o frio não brinca na praia, mesmo em pleno verão...
Invade-me uma saudade profunda, saudade dos cheiros do verão, das ansiedades do verão, das noites mais escuras e das estrelas mais brilhantes. Só anos mais tarde, de namoro no meio do Alentejo percebi que há noites mais escuras do que as do meu canto, onde se avistam mil e uma estrelas. Mas essas noites não tinham os cheiros, a areia, a brisa, os risos e as lágrimas, e, como tal, ainda acredito que ali, no meio de um local onde pertenço, a noite é mais escura e as estrelas mais brilhantes...
Escuto os meus ritmos. Foi um ano atribulado e eu sabia que teria de parar e esperar a minha sombra, como o outro do provérbio árabe. Aceito. Espero, aguardo, semeio dentro da minha alma novas fontes, projectos, novas gargalhadas. É um tempo de viver um dia atrás do outro. Não há maior lição de aqui e agora, do que a maternidade. Aprendi isso com a pipoca e aprendo tudo novamente, como se fosse a primeira vez. Não há nada errado em reaprendermos lições importantes.
Dizem que o Mar está zangado comigo... não acredito. Quem conhece a minha alma, sabe de que matéria é que sou feita, aguarda... silenciosamente, e com a certeza de novos mergulhos, novos cheiros, novos desejos formulados em segredo. Não há cobrança para quem é feito da mesma essência.
Regresso às estrelas cadentes. Ouço-os ali, à janela. Sentem o verão e aguardam-me. O presente tem sempre coisas mágicas... como todos os instantes.
5 comentários:
Isso...
Um momento tão perfeito que condensa em si todo o passado e todo o futuro. Um momento de felicidade, de nostalgia, de consciência...
Gosto de estrelas cadentes e da magia que encerram. No outro dia tentaram explicar-me que não são de facto estrelas, mas não quis saber... a magia é para ser sentida e não explicada.
Beijos
Quase que consigo ver os vossos sorrisos, a magia cúmplice... Que bênçãos, minha Lita! Deus continua a presentear-nos o tempo todo, mesmo que não nos achemos merecedores...
O Mar zangado contigo? O Mar entende as marés que nos assolam, entende que por vezes temos que navegar as ondas mais altas para poder descansar os pés na areia da praia. O Mar não cobra... só embala.
Um beijo grande
Ianita, a magia é para ser sentida e não para ser explicada... é mesmo isso! :)
Mag, e é nesse embalo que me vou sentido, entre ondas e espuma. As marés também têm os seus dias... :)
Muitas bençãos, de facto.
E, um sempre, obrigada!
:) Também sempre gostei muito de ver estrelas cadentes. E o melhor sítio para as ver era mesmo no meio da eira da minha avó, nas noites de Agosto.
Gostei muito da frase "Não há cobrança para quem é feito da mesma essência.". E acredito que no teu caso é mesmo assim. Quase que aposto que se encostar uma concha/búzio ao ouvido tenho 50% de hipóteses de te ouvir. ;)
Claro que o Mar não está zangado contigo mas, perdoa-me que isto agora não tem muito a ver, isso fez-me lembrar um episódio do Seinfeld em que o George diz "The sea was angry that day, my friends... like an old man trying to send back soup in a deli!". :D
passagem bonita... =)
Parabéns...
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