Era o nome dele.
Um rapaz ruivo, barbudo e com um sorriso simpático, que costumava aparecer na praia, ou na discoteca que frequentávamos.
Não haveria nada para dizer deste rapaz, que nunca teria frequentado a minha casa, ou estado com os meus amigos, se a Paula não estivesse perdidamente apaixonada por ele.
A Paula era minha amiga desde sempre,
crescêramos juntas nas dunas daquela praia mágica onde vivi a minha infância e
adolescência. Era dois anos mais nova do que eu, apesar de sempre se ter dado com os amigos do irmão mais velho e, por isso, não se notar qualquer diferença de comportamentos entre nós.
Naquele Verão, e nos dois ou três que se seguiram, a Paula estava diferente. Apaixonada, triste ou muito alegre, dependendo da distância a que estava do Chico, e muito perdida.
O Chico? Nada tinha de especial. Não era um rapaz bonito, não lhe notava nenhuma
característica extraordinária. Era simpático e usava charme a torto e a direito. Para todos os lados.
Percebemos a tristeza da Paula com facilidade. A mesma que a fazia ir para os bares onde ele estava, sair deles a chorar. A mesma que a fez ter mil e um namorados, numa vã tentativa de ultrapassar a dor, dor essa que a fazia terminar a relação e destroçar alguém que a ela se entregara com sinceridade.
Quem é que não sofreu por amor?
O Chico? Parecia esquecer-se dela até a ver surgir de namorado novo. Nessas alturas, a vontade de estar connosco aumentava, quase forçando as amigas dela a serem íntimas dele, aumentando-lhe não só a insegurança, em relação ao novo namorado, como os ciúmes...
Estava um dia na praia, gostava de me sentar naquele banco mágico a olhar o por-do-sol. A filha do meu vizinho apareceu, uma menina linda, com uns 3 anos de idade, caracóis louros e olhos de um azul brilhante. Fiquei ali, a brincar com ela, enquanto os
últimos raios de sol brincavam com a minha pele e a maresia me relaxava.
A
Scooter subiu a passadeira e o Chico desceu dela e instalou-se ao meu lado. A familiaridade que eu tinha com ele vinha através da Paula. Ou da discoteca, de o ver na praia. Falava com ele. Não era meu amigo, sequer.
- Que criança linda! - disse ele de repente. - Tenho tanta vontade de ser pai. Já imaginaste nós os dois juntos com uma coisinha assim?
Não sei se fiquei de queixo caído. Mas a minha alma ficou. Que raios????
- Não...
Foi tudo o que consegui dizer, meio aparvalhada.
Era dali o charme estranho com as raparigas. Haveria mesmo quem caísse naquela
converseta idiota? A Paula não via isso? Parecia que não, a paixão é mesmo cega. Mas assim era o Chico, com uma conversa
insana e na qual ele parecia acreditar piamente... nos minutos em que tinha. Depois disso comecei a reparar mais atentamente e, de facto, era assim que o rapaz conquistava namoradas. Com palavreado sem nexo, imagens de um futuro brilhante ao lado da rapariga, ainda que ela fosse uma desconhecida, e um desaparecimento rápido na sua imparável
Scooter.
Enfim...
A Paula hoje é uma mulher realizada. Casada com o homem que escolheu e que a ama, com um filho maravilhoso. Encontro-a uma vez por ano, num jantar de amigos onde toda a gente ri muito, recordando episódios bons e maus, mas todos saudosos, daqueles tempo.
O Chico? Ninguém fala dele. Porque ninguém se lembra. Nunca mais o vi. Nunca mais soube nada. Até hoje, nunca o recordei.
Porque é essa a energia de quem não se dá. De quem nada tem de verdadeiro e bom para oferecer. Um dia... ninguém se lembra de que existiu. Porque nada deixou para recordar.