terça-feira, agosto 08, 2006

No início era o verbo...


Se a imagem vale mais que mil palavras, sem dúvida que a escrita materializa a palavra e a torna palpável, leve ou pesada, áspera ou suave ao toque, doce ou amarga.

Escrever pode ser um escape, uma catárse, uma maldição dos sentimentos.
Escrever pode dar um tom mais sépia à nossa rotina cinzenta. Para mim, serve-me como combustível onde me alimento, onde me desgasto.

Posso criar mundos com a palavra escrita, renasço neles sob a forma que me convém, transmuto-me e refaço-me de acordo com o que preciso. Posso dar cor ao pormenor, trazer ao de cima a partícula do momento que o tornou eterno e imortalizá-lo numa folha de papel. É um poder que se manipula, utiliza, se sente.

Mas não se controla.

Há aquelas alturas em que é a escrita que nos surpreende, é ela que acorda em nós pedaços adormecidos de memória, retalhos de sentimentos bolorentos e escondidos...
... como se o seu poder fosse tão imenso que perfurasse directo o tempo e o espaço - tornando-os inexistentes - e acordasse em nós instantes imutáveis de vida.

Sou esmagada por esses instantes, mas não deixo de brindar aos milagres da vida, por nos trazerem sempre de volta à verdade...

4 comentários:

Neptuna disse...

E é assim que a palavra dá forma aos conteúdos que se passeiam dentro de nós. É assim que se registam e fotografam na escrita os pensamentos que nos habitam. O acto de escrever carrega com ele a emoção do momento que impulsiona a escrita. Fantástico ainda é quando posteriormente lemos aquilo que aparentemente foi escrito por um personagem que nos habitou, que já não nos pertence... mas que fez parte do processo de construção daquilo que somos hoje. É por isso que é cartático, porque de cada vez que é relido o texto emoções mais sublimadas aparecem ou não..

Lita disse...

Sim, os arquétipos que nos habitaram podem desaparecer, ou mudar... e a energia deles deixa de nos fazer sentido.

Ainda assim, a escrita mantém imutável a prova de que existiu ali uma história...

Olavo disse...

Eu que também adoro escrever, penso no acto com uma forma de por o mundo a dançar ao ritmo das minhas palavras. Egocentrismo ou talvez não, penso no ritmo com que teclo, como uma ênfase que vou dando a cada palavra, uma emoção que vou passando a cada acento, uma imagem que vou criando a cada paragrafo...É certo, que na maioria das vezes, só eu vejo esse ritmo, só eu sinto essa emoção, só eu vislumbro essas imagens, e nada me garante que inclusive eu, não as deixe de ver um dia...
Mas o mais importante acontece no acto, quando as letras pululam em tela branca, e se constroem e reconstroem em busca do pensamento que me invade a alma e escorre pelo mais profundo do meu ser, nessa altura tenho um momento de puro deleite, de pura magia, de pura felicidade…é o meu mais profundo desejo partilhar esse deleite, essa magia, com todos os que me lêem, mas é também um momento de pura reflexão de interiorização, apaziguamento pessoal, que tanto gosto de fazer através desta mais valia maravilhosa, que é a escrita…

Lita disse...

Sem dúvida uma benção... a escrita!!!

E, já agora, um ode aos blogs, que nos permitem partilharmo-nos infinitamente uns com os outros!!!