quinta-feira, dezembro 28, 2006

Às vezes esqueço-me...

...do quão pequenina sou neste universo.
Do som das minhas músicas preferidas. Da liberdade de correr na praia, de abrir os braços e inspirar profundamente, de caminhar sem destino e sem pressa.
Do conforto de uma lareira quentinha, de um bom livro numa tarde de chuva, de ficar enroscada num corpo quente, depois de fazer amor.
Do sabor de um beijo, do chocolate amargo, do café, da frescura de um gelado.
Da alegria que me dá o sorriso da minha filha, da sensação do seu corpinho nos meus braços.
Da paz interior em que fico, depois de chorar até não ter mais lágrimas.
Da sensação de amar. De ser amada.
Não me esqueço propriamente destas coisas, mas de AGRADECER por elas. Pela oportunidade de viver num planeta onde estes momentos também são possíveis. Não apenas aqueles que o jornal das 20h nos proporciona.
Que 2007 entre em abundância para todos....

quarta-feira, novembro 29, 2006

Mórbido

Ontem, na rádio, ouvi uma daquelas frases que, supostamente são para nos pôr a pensar. O problema foi que a frase me soou tão mórbida que só me fez rir.
É digna de blog. Aqui vai:

"Quando te sentires verdadeiramente num buraco, pensa que, pelo menos, ainda não te estão a mandar terra para cima."

LOL

segunda-feira, novembro 20, 2006

Existências...


Há acontecimentos na vida que, em questão de segundos, tornam todas as nossas prioridades simples, óbvias e inequivocas.
Passamos dias e semanas, e anos e repensar as nossas escolhas, a tentar perceber o que é que é importante. Algumas coisas são mais importantes que outras, é claro. Mas no dia a dia, nem sempre as tratamos como se fossem assim tão importantes. Elas estão lá.
Então, um dia, numa questão de segundos, olhamos para o lado e a nossa filha de dois anos - que estava ali AGORA mesmo - não está ali. É um sábado de Novembro e, estupidamente, estou dentro de um Centro Comercial.

Não há descrição para os minutos que que passam a seguir.

Para a correria de um lado para o outro, para a mente a tentar lutar contra si propria, para não imaginar os piores cenários possíveis. Para o instante em que pedimos a protecção de Deus, do Anjo da Guarda, ou seja lá de quem for. Para o momento em que vejo a minha vida a passar-me diante dos meus olhos e percebo que nada tem sentido sem a presença desta serzinho que tanto mudou a minha existência.

Para o momento em que me dizem que foi encontrada e em que ela chega de mãos dadas com o segurança, a comer a sua bolacha, super descontraída e me abraça porque acha que estou preocupada.
A sua visão do mundo é tão segura que não se assustou, achou normal o "sinhô" ter ido buscá-la, diz que estava à minha procura. Confirmou as suas crenças de segurança no mundo.
Eu apertei-a nos braços, tentei sair dali o mais rapidamente possível e de repente todos os meus problemas existenciais pareciam nada perante a grandiosa oportunidade que a vida me deu de ter esta criança, de partilhar com ela...

Tudo aconteceu em menos de 10 minutos e sinto que perdi vários anos de vida. E que não tenciono perder mais nada.

segunda-feira, outubro 30, 2006

...

Bateste novamente à porta, hoje. Não acordei, talvez porque uma parte de mim queria ver se estavas bem, se a tua rudeza ainda combinava com o teu encanto.

É estranho, quando surges assim do inesperado, do incontrolável. Ainda não percebi se é agradável ou assustador.
Abri com cuidado, não fosses tu entrar de rompante, levando atrás tudo aquilo que me esforcei tanto por guardar.
Sorriste, pediste licença, sentaste-te em cima da antiga arca da minha avó.
Quiseste um café.
- Mas... tu não bebes café!!!
Sorriste de novo.
- Estou no teu sonho, posso fazer tudo aquilo que te agradar. Como saborear um café contigo.
Bebemos o café em silêncio, olhos nos olhos. O aroma da bebida somado à cor dos teus olhos... o que poderia haver para dizer???

Depois despediste-te e, à porta, olhaste-me de novo.
- Volto quando me quiseres aqui.
- Acho que não vou querer, sabes?
De novo o sorriso.
- Volto então, quando me apetecer...

terça-feira, outubro 03, 2006

Letting go...



O Leão e o Rio

"Depois de atravessar grandes chuvas, o leão foi confrontado com o ter de atravessar o rio que o cercara. Nadar não fazia parte da sua natureza, mas era forçado a fazê-lo se queria sobreviver. O leão rugiu e investiu contra as águas do rio que quase o afogaram antes de ele recuar. Foram muitas as vezes em que tentou a travessia deste modo, mas em todas elas fracassou. Exausto, o leão deitou-se e foi quando se acalmou que ouviu o rio dizer:
- Nunca lutes contra o que não existe.
Cautelosamente, o leão olhou à sua volta e perguntou:
- O que é que não existe?
- O teu inimigo - respondeu o rio. - Tal como tu és um leão, eu sou apenas um rio.
O leão então sentou-se muito tranquilo, a estudar o curso do rio. Passado algum tempo, dirigiu-se ao ponto em que a corrente fluia para a margem e, a deixar-se levar por ela, flutuou até ao outro lado."

in "Não leve a sua vida tão a sério"

quinta-feira, setembro 07, 2006

Minh'alma de sonhar-te anda perdida...


Desde há meses que as relações à minha volta andam a ruir. Depois voltam à homeostase... e continuam a ruir...
Na verdade, isso acontece desde que me conheço por gente, somente há meses comecei a ter algum "interesse científico" na coisa.

O ser humano é um ser curioso, estranho, com um potencial fantástico e uma capacidade de se enganar a si próprio maior do que seria possível imaginar... e no Amor, a coisa não poderia ser mais assim.

O Amor é algo que me fascina (DAH!!!!). O amor, as relações, as dependências, o querer estar sem estar, o não querer estar e estar....
Ontem, a Bisturi e eu falávamos sobre o assunto e chegámos à brilhante conclusão de que estamos sempre a tentar mudar quem o outro é, na esperança de não nos confrontarmos com que acreditamos ser, mas não somos. Utilizando as palavras da minha querida amiga, isso é uma "fricalhice" do caraças. Não estou a falar "dos OUTROS". Eu própria, não poderia ser mais assim.

Temos uma auto-imagem idealizada, de como seria a relação perfeita e do papel perfeito que teríamos nessa relação. Como amaríamos o outro, como ele nos amaria a nós, o que seria suposto acontecer, o que não permitiriamos que acontecesse.
De repente, a relação não é perfeita e o outro não encaixa nada naquilo que tinhamos guardado para ele.
E tentamos desesperadamente mostrar-lhe o quanto é errado ele ser quem é. E quando não o convencemos disso, é terrível termos de confrontar-nos com o facto de nós próprios não amarmos da forma perfeita, permitirmos o que antes não permitíamos, e só nos conseguimos aguentar à bronca dizendo que o culpado é o outro.
Poderíamos sempre ir embora sendo quem somos e procurar outro que fosse quem nós queríamos, não é? Mas não vamos... e se vamos...muitas vezes a alma fica lá, presa naquela forma, naquele instante em que queríamos que o outro fosse quem não era.

Fácil falar... fácil escrever sobre aquilo que o mundo inteiro se dedicou nos últimos séculos. Sim, ao que dizem, o amor romântico é coisa recente.

Há algo em nós que não larga, não larga a forma. Nem sequer é o outro, é a forma como amámos o outro quando acreditámos que ele era quem nós queríamos. É o medo do vazio. É preferível encher essa emoção com infelicidade, parece menos doloroso, paradoxalmente. É mais fácil morrer de amor do que viver desistindo dele.

Será isso Amor? Eu não sei. Dizem que só nos apaixonamos por nós próprios e a paixão morre,quando vimos no outro a sombra que também somos. Uma coisa é certa... é tão fácil perdermo-nos no turbilhão de emoções dessa viagem. É tão fácil não querermos sair de lá.

"Minh'alma de sonhar-te anda perdida,
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és, sequer, razão do meu viver
Pois tu és, já, toda a minha Vida.

Não vejo nada, assim, enlouquecida.
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida.

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa."
Quando me dizem isto, toda a graça
De uma boca divina fala em mim.

E, olhos postos em ti, digo de rastos
"Ah!Podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como Deus, Princípio e Fim."

Florbela Espanca

terça-feira, agosto 08, 2006

Sínteses


"Não podemos resolver um problema no mesmo nível de consciência que criou o problema."

Albert Einstein

E, se não estou em erro, também o autor de: "Estupidez é fazer o que sempre fizemos na esperança de obter resultados diferentes."

E faz algum sentido, não?

Diz-se que a síntese é quando se faz o salto de consciência para um degrau acima, fazendo a triangulação entre a tese e a antítese.

À síntese e a novos desafios!!!!

Que os velhos já morreram e ninguém deu por isso...

No início era o verbo...


Se a imagem vale mais que mil palavras, sem dúvida que a escrita materializa a palavra e a torna palpável, leve ou pesada, áspera ou suave ao toque, doce ou amarga.

Escrever pode ser um escape, uma catárse, uma maldição dos sentimentos.
Escrever pode dar um tom mais sépia à nossa rotina cinzenta. Para mim, serve-me como combustível onde me alimento, onde me desgasto.

Posso criar mundos com a palavra escrita, renasço neles sob a forma que me convém, transmuto-me e refaço-me de acordo com o que preciso. Posso dar cor ao pormenor, trazer ao de cima a partícula do momento que o tornou eterno e imortalizá-lo numa folha de papel. É um poder que se manipula, utiliza, se sente.

Mas não se controla.

Há aquelas alturas em que é a escrita que nos surpreende, é ela que acorda em nós pedaços adormecidos de memória, retalhos de sentimentos bolorentos e escondidos...
... como se o seu poder fosse tão imenso que perfurasse directo o tempo e o espaço - tornando-os inexistentes - e acordasse em nós instantes imutáveis de vida.

Sou esmagada por esses instantes, mas não deixo de brindar aos milagres da vida, por nos trazerem sempre de volta à verdade...

sábado, agosto 05, 2006

O pôr da Lua



Deitei-me tarde. Seriam 2, 3 da manhã? Não me recordo, mas era tarde, porque a noite eu tinha-a vivido intensamente. Tinha rido, bebido, dançado, cantado. Tinha sonhado acordada com os teus olhos e tu olhavas-me, deixando um sopro desse sonho na minha pele.

Por isso estranhei quando bateram na porta. Geralmente, a essa hora da noite tudo o que havia eram as vozes de outros que regressavam a casa, depois de noites mais longas do que minha. Ou o silêncio envolvido pelo barulho das ondas na praia.

Fui abrir a porta. Na minha mente não surgiram medos de estranhos, de assaltos... não existiam essas preocupações, na praia ou no meu ser.

Eras tu.
- Já alguma vez viste um pôr da Lua?
Pegaste-me na mão antes que tivesse tempo de responder-te e arrastaste-me passadeira acima, até ao banquinho verde. O meu banco da praia.
E foi aí que vimos um esplendoroso pôr da Lua. A Lua Cheia mergulhando suavemente no mar, numa noite quente e escura, com um imenso mar de estrelas por cima de nós.

Nada mais disseste. Eu sabia que a tua ligação com a Lua era forte e teres vindo de propósito partilhar esse momento comigo dizia-me muito mais do que qualquer das tuas palavras teria transmitido.

Viemos de volta, disseste até amanhã e foste-te.
Nunca te agradeci a forma como demonstraste ter gostado da minha companhia nesse Verão.
Obrigada.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Estar ou não estar....


Há dias destes... em que, por mais que procure, não estou em parte alguma. Pura e simplesmente não me encontro.

Às vezes busco-me até à exaustão, procuro na mente coberta de pensamentos vagos e listas intermináveis de coisas não prioritárias por fazer, um vislumbre do meu ser. Nestes dias acabo cansada e triste, com a sensação vazia de nada ter sido acabado, de nada ter sido planeado, de nada ter sido iniciado, de nada ter sentido.

Noutras alturas, finjo que não percebo, continuo o meu dia como se ele fizesse sentido, como se estivesse de facto aqui, a habitar o meu corpo.

Também é parte de mim, este não estar, mas de facto a sensação de não estar presente, de não ser achada por mim mesma é... um não estar angustiante!!!!

Quero emergir!!!!!

quarta-feira, agosto 02, 2006

Relações


A mais sábia frase do mundo.

"As relações servem para resolver, a dois, problemas que nunca teríamos sozinhos!!!!!"

quinta-feira, julho 13, 2006

Aurora




Conheceu-o quando tinha 12 anos.
Nunca antes tinha tido um namorado e não foi difícil apaixonar-se pelo menino de sorriso traquinas e olhos castanhos amendoados. O André tinha esse dom, criar paixões.

A paixão durava o mesmo tempo que os verões, e alimentava-se de olhares e sorrisos...

... até o dia em que o André correspondeu, e vários anos se tinham passado. Por motivos alheios, ele vivia debaixo de um barco, ela tinha acabado de chegar lá para trabalhar. Foram viver juntos. Ao mesmo tempo, Aurora não estava segura. André tinha outra paixão, que crescia a olhos vistos, cada dia dependia mais dela e por ela fazia qualquer coisa, perdia empregos, deixava de comer, roubava...

Mas o amor de Aurora era mais forte que a dependência de André. Ela queria ajudá-lo, sabia que ele seria muito mais, se ultrapassasse esta fase. Por isso, deixou passar as noites em claro, a falta de dinheiro, as dívidas, o medo que ele não vivesse para o dia seguinte. Deixou passar o seu cadastro no banco de Portugal, pelo roubo que ele lhe fez, avergonha de levar amigos lá a casa, a perda dos amigos. Deixou passar o seu amor próprio. Por que o amava.

"Deixa-o. Já foi demasiado longe. Não vale a pena!" A cada frase destas, Aurora abanava a cabeça. "Vocês não compreendem, eu amo-o."

A sua espera teve frutos. André largou a droga. Quis ser internado, tratou-se, tirou um curso técnico, arranjou um emprego. Mais uma vez, largos anos se tinham passado.

Algum tempo depois, André teve um acidente de trabalho que o deixou parado muitos meses. Não foi um problema, depois do que tinham passado, Aurora sentia-se pronta para tudo.

André melhorou. Voltou a trabalhar.
E um dia voltou para casa, triste, cabisbaixo, um olhar pesado.
Aurora não se desestabilizou. Estava pronta para tudo.

"Estou apaixonado por outra pessoa. Desculpa. Não planeei, mas acho que me vou embora."
Nunca estamos prontos para a Vida, não é?

Liguei-lhe. Estava à espera de revolta, pensamentos negros de "anos perdidos para nada". "Como estás?" - perguntei.
"Triste, desesperada, desolada. Mas acontece. Tenho de ter fé que as coisas vão melhorar, com ele ou sem ele. Seja como for, valeu sempre a pena"

E foi a primeira vez que eu SOUBE que a minha querida amiga soubera sempre o que estava a fazer.
Um enorme beijo e todo o meu amor para ti, querida Aurora.

terça-feira, julho 11, 2006

Criancices



Quando a R. me disse que iriamos coordenar a colónia à praia e "estar com os meninos" de tarde, a coisa não me soou má de todo.
"Nem tens de tomar banho" - diz-me. "É só olhar pelos monitores, que eles tratam do resto."

Esta do não ter de tomar banho pode soar estranho, mas tentem pôr uma algarvia com alergia ao frio nas águas da Caparica e depois digam qualquer coisa....

Enfim, vamos aprendendo.
7 horas da manhã - o despertador toca e quase salto da cama. "Já é de manhã?"
Preparar a mochila da filhota, para o pai não demorar 3 horas à procura das coisas. Encontrar o biquini, "eu sabia que o tinha deixado por aqui... mas onde?". Descobrir que a toalha de praia está molhada. Alternativa: a toalha com o Noddy. Porque não?
Pode ser que não se note.... Preparar a minha mochila. Fazer qualquer coisa para o almoço, que tenciono levar. Procurar a agenda, foi vista pela ultima vez nas mãos de uma criança que 2 anos que descobriu há pouco o prazer de... PINTAR! Vestir.

8h30 - Sair a correr, com um pessego na mão, a mala, a mochila e a agenda noutra. Entretanto, esqueço-me do almoço.

9h00 - Chego ao Bairro, onde o autocarro e 35 crianças me esperam, acompanhadas de 4 monitores de 17 anos e uma mulher que, I don't Know why, vai connosco.

9h45 - Praia. Enquanto tentamos descobrir um lugar agradável para estar, a mulher que, I don't know why, foi connosco, começa a falar mal de uma das monitoras e, de repente todos os monitores falam da mal da jovem. Acabo com a conversa e mando-os cuidar dos seus grupos de criança. Abro a mochila e tira a toalha. "HEEEEEEEE!!!! Toalha do Noddy!" - gritam uns quantos, enquanto gozam comigo.

Manhã - duas monitoras zangam-se. 4 crianças choram. 2 meninos correm pela praia e temos de ir atrás deles. Tentamos ir ao banho. Dois meninos são enrolados nas ondas, apesar dos 4 monitores dentro de água. Um grupo de crianças molha-me. Fico com alergia. Hora do lanche. Não querem aquele lanche. Lancham. Os 4 monitores zangam-se. Tento juntá-los para fazermos jogos. Ando a tentar agrupá-los. Consigo juntá-los todos. Começa a chover. Arrumamos as coisas, desenterramos algumas crianças que outros tinham enterrado até ao pescoço enquanto nos vestíamos, chegamos ao autocarro encharcados. Uma monitora chora cá fora e não quer entrar no autocarro, devido aos outros 3.

Hora do almoço - reunião com os monitores, tentativa de acalmar os animos e reorganizar as operações. Duas resolvem não se falar e fazer com que tudo passe por mim. Descubro que não tenho almoço. Vou comer uma tosta e um sumo.

15h - Ensaio de dança das meninas. Uma resolve não dançar por vergonha. A professora de dança passa-se. Tento trazer a menina de volta. Pego em 8 meninos que não têm nada para fazer e levo-os para o espaço lúdico doutro bairro, onde mais 10 crianças nos esperam. Querem dançar. Não gostam de dançar. Querem jogar computador. Competem pelo computador. Zangam-se uns com os outros. Chamam-se nomes. Tento acalmar os animos, conversar. Não querem conversar, querem que os outros se vão embora. "Não pode ser. Vai ser todo o verão assim" - digo. Olham para mim furiosos.
Vem a Irene dar-lhes o lanche. Não querem aquele lanche. Lancham. Competem pelo brinquedo do lanche. Choram. Tento acalmar os animos "Eu não nasci para isto." - penso.

17h - hora de ir ambora. Acusam-se de lhes terem roubado os brinquedos. Chamam-se nomes. Tento acalmar os animos. Ninguém se fala. "Amanhã vêm outra vez?" - pergunta uma ansiosamente. Abano a cabeça e digo que sim... (?)"Isto não é normal!"
Volto para o outro bairro. Recados para mim: 2 não vão no dia seguinte, uma monitora quer desistir, uma voluntária quer ir. Telefono para todos. A monitora resolve continuar.

17h30 - sento-me numa cadeira e digo "estou exausta". "De quê?" - perguntam as colegas. "Passaste o dia na praia e a passear."

Parece que sim, não é?? Agora é só ir para casa, ir buscar a filhota, dar-lhe banho, preparar-lhe o jantar, pintar com ela, dar-lhe o jantar, contar-lhe uma história, correr atrás dela enquanto me berra "não ké dumi", levá-la para a cama, contar-lhe mais 3 histórias, esperar que adormeça, preparar actividades para o dia seguinte, e começar tudo de novo...

Não há nada como as crianças!!!!

sexta-feira, junho 02, 2006

A casa



Foi tudo o que conheci de verdadeiramente seguro, na vida. O meu lugar, o meu tesouro, o meu espaço sagrado para me resguardar do tempo e do mundo.

Mais tarde, a Vida ensinou-me que a segurança não pode vir de fora, mas apenas de dentro de nós. Tive, por isso, que perder o meu resguardo…

Mas ainda hoje, quando me apetece procurar um espaço sagrado no coração, imagino-me no pátio da minha casa de madeira. Olho o dia que se começa a desvanecer, o calor forte que me invade os sentidos e os deixa num estado entre a ansiedade e a expectativa.

Abro o portão e subo a passadeira de cimento que dá para a praia. De ambos os lados, casas de pessoas que me viram crescer, que me viram olhar o mundo de formas tão diferentes de hoje.

Chego ao cimo, onde acaba o cimento e começa a areia da praia. Sento-me no banquinho verde, do lado esquerdo da passadeira, e lá fico a sentir o aroma a maresia, a brisa no rosto… e a olhar o Sol laranja que se põe no mar.
Pelo respostas e peço Amor. Amor por mim, agora. Amor por mim.

quinta-feira, maio 18, 2006

Caminho




"There's a hole in my sidewalk



Capítulo 1
Vou pela rua fora.
Há um grande buraco no passeio.
Eu caio lá dentro.
Estou perdida... indefesa.
Não é culpa minha.
Levo uma eternidade a encontrar uma saida.

Capítulo 2
Vou pela mesma rua fora.
Há um grande buraco no passeio.
Finjo que não o vejo.
Caio lá dentro outra vez.
Não acredito que estou no mesmo sítio.
Mas a culpa não é minha.
Ainda levo muito tempo a conseguir sair.

Capítulo 3
Vou pela mesma rua fora.
Há um grande buraco no passeio.
Vejo que está lá.
Continuo a cair... é um hábito.
Tenho os olhos abertos.
Sei onde estou.
A culpa é minha.
Consigo sair imediatamente.

Capítulo 4
Vou pela mesma rua.
Há um grande buraco no passeio.
Passo ao lado.

Capítulo 5
Vou por outra rua."

Portia Nelson

Quero ir por outra rua....

Mudar

Mudei de perfume.

Parece tão banal, não é? A maioria das pessoas tem vários perfumes que usa de acordo com os dias, as disposições.

Mas eu não. Uso o mesmo perfume há 12 anos. Nunca pus nenhum outro ao longo desse tempo. Era o meu perfume. Todos o sabiam. O Gualter costumava dizer-me, cada vez que me dava dois beijos na cara, que o meu cheiro lhe recordava de mim!!!! Que era inconfundível, tão inconfundível que esse cheiro me pertencia.

O Nelson, depois de vários anos de namoro, um dia percebeu que o que ele considerava o meu cheiro era o cheiro do meu perfume... dizia ele que gostava do meu cheiro porque era natural!!!!!
E era. Porque eu também o associava a mim, à minha personalidade, à marca que eu queria deixar no mundo.

Sou de mudanças drásticas. Não tenho medo de saltar de emprego para emprego, de casa, de amigos, até. Não tenho muito medo do mundo, nem do tempo, nem de experiências novas.
Mas não mudo o cabelo, não mudo os móveis de minha casa de lugar e não mudo de perfume. Há coisas que têm de continuar a ser locais seguros. Como o banco verde da Praia de Faro, onde me sentei, a ver o por do sol, mais vezes do que seria possível descrever. Como a Carla, com quem continuo a conversa que começámos a ter aos 12 anos e continuámos por aí fora, por carta, por telefone, pessoalmente, às vezes com espaços de anos entre elas, outras vezes com espaços de minutos. Como a Lua, que está sempre lá, mesmo nos dias em que não se vê.

Mas o meu perfume acabou e não comprei outro frasco. Ninguém me ofereceu outro. E os dias foram passando... sem perfume. E mais uma vez a vida me provou que eu não sou nada que eu possa descrever. Eu não sou um perfume, uma imagem, uma personalidade. Eu não sou uma mulher, uma companheira, uma amiga, uma mãe, uma trabalhadora. Eu sou. E isso significa que tudo o que me der na veneta me é permitido, desde que não interfira na "Veneta" dos outros.

O Nuno dizia, pela 3ª vez, no outro dia, uma frase do Fernando Pessoa. "Aconteça o que acontecer, não será maior do que a minha alma." É verdade. Nem o meu perfume.

As verdades...

Perco-me muitas vezes, nesse jogo.
O das palavras, a eterna deambulação das palavras, em torno de um tópico, de um sentido dialéctico para aquilo que o coração sente, a mente descasca e as palavras tentam modelar. Nunca ganho.
Não que as palavras não me sejam boas companheiras de guerras dialécticas, de jogos verbais de poder. Não é a batalha que eu não ganho. É a harmonização. Nunca ganho a sensação profunda de que fiz o certo, descobri a verdade e que a minha batalha ganha foi uma mais valia para o mundo.
De que me servem as discussões vãs, para além do treino intelectual e da ideia de que as boas argumentações levam-nos a vários sítios... mas raramente à verdade? Porque a verdade não está na argumentação, nem nas palavras, nem na mente, nem sequer em livros maravilhosos. Não está em lado nenhum...
Porque apenas é verdade se o for para mim, sem nenhuma argumentação, sem nenhuma crítica, para além da certeza e do sentir profundo de que é verdade.. e que é só minha. E isso faz com que cada um tenha uma. Uma verdade única para cada ser, uma verdade que o torna único, especial, perfeito...
...e isso não se ganha... surge-nos de dentro.
Por isso nunca pode ser ganho no jogo das palavras... prefiro as palavras sem jogo! As que seguem as nossas verdades.