quarta-feira, julho 28, 2010
O Chico
Um rapaz ruivo, barbudo e com um sorriso simpático, que costumava aparecer na praia, ou na discoteca que frequentávamos.
Não haveria nada para dizer deste rapaz, que nunca teria frequentado a minha casa, ou estado com os meus amigos, se a Paula não estivesse perdidamente apaixonada por ele.
A Paula era minha amiga desde sempre, crescêramos juntas nas dunas daquela praia mágica onde vivi a minha infância e adolescência. Era dois anos mais nova do que eu, apesar de sempre se ter dado com os amigos do irmão mais velho e, por isso, não se notar qualquer diferença de comportamentos entre nós.
Naquele Verão, e nos dois ou três que se seguiram, a Paula estava diferente. Apaixonada, triste ou muito alegre, dependendo da distância a que estava do Chico, e muito perdida.
O Chico? Nada tinha de especial. Não era um rapaz bonito, não lhe notava nenhuma característica extraordinária. Era simpático e usava charme a torto e a direito. Para todos os lados.
Percebemos a tristeza da Paula com facilidade. A mesma que a fazia ir para os bares onde ele estava, sair deles a chorar. A mesma que a fez ter mil e um namorados, numa vã tentativa de ultrapassar a dor, dor essa que a fazia terminar a relação e destroçar alguém que a ela se entregara com sinceridade.
Quem é que não sofreu por amor?
O Chico? Parecia esquecer-se dela até a ver surgir de namorado novo. Nessas alturas, a vontade de estar connosco aumentava, quase forçando as amigas dela a serem íntimas dele, aumentando-lhe não só a insegurança, em relação ao novo namorado, como os ciúmes...
Estava um dia na praia, gostava de me sentar naquele banco mágico a olhar o por-do-sol. A filha do meu vizinho apareceu, uma menina linda, com uns 3 anos de idade, caracóis louros e olhos de um azul brilhante. Fiquei ali, a brincar com ela, enquanto os últimos raios de sol brincavam com a minha pele e a maresia me relaxava.
A Scooter subiu a passadeira e o Chico desceu dela e instalou-se ao meu lado. A familiaridade que eu tinha com ele vinha através da Paula. Ou da discoteca, de o ver na praia. Falava com ele. Não era meu amigo, sequer.
- Que criança linda! - disse ele de repente. - Tenho tanta vontade de ser pai. Já imaginaste nós os dois juntos com uma coisinha assim?
Não sei se fiquei de queixo caído. Mas a minha alma ficou. Que raios????
- Não...
Foi tudo o que consegui dizer, meio aparvalhada.
Era dali o charme estranho com as raparigas. Haveria mesmo quem caísse naquela converseta idiota? A Paula não via isso? Parecia que não, a paixão é mesmo cega. Mas assim era o Chico, com uma conversa insana e na qual ele parecia acreditar piamente... nos minutos em que tinha. Depois disso comecei a reparar mais atentamente e, de facto, era assim que o rapaz conquistava namoradas. Com palavreado sem nexo, imagens de um futuro brilhante ao lado da rapariga, ainda que ela fosse uma desconhecida, e um desaparecimento rápido na sua imparável Scooter.
Enfim...
A Paula hoje é uma mulher realizada. Casada com o homem que escolheu e que a ama, com um filho maravilhoso. Encontro-a uma vez por ano, num jantar de amigos onde toda a gente ri muito, recordando episódios bons e maus, mas todos saudosos, daqueles tempo.
O Chico? Ninguém fala dele. Porque ninguém se lembra. Nunca mais o vi. Nunca mais soube nada. Até hoje, nunca o recordei.
Porque é essa a energia de quem não se dá. De quem nada tem de verdadeiro e bom para oferecer. Um dia... ninguém se lembra de que existiu. Porque nada deixou para recordar.
sexta-feira, fevereiro 26, 2010
O Nosso Espaço

Com nervosismo falei com a mulher que recebia os pagamentos, também ela cheia de luz, simpatia e generosidade. Ainda não sabia ser ela quem sonhara aquele espaço, quem o pusera a funcionar.
Foi um fim de semana extraordinário. Não será exagero dizer que mudou a minha vida... para melhor e de uma forma impossível de retroceder. Há caminhos que não têm a opção "voltar para trás". Não importa aqui falar da transformação interior que vivenciei, das pessoas maravilhosas que conheci, das lágrimas curadoras que derramei.
A sala era mágica. Alta, como só as casas antigas o sabem ser, decorada com os antigos azulejos de casa centenária, e com a resplandecente luz da Baixa a salpicar todas as janelas.
Regressei lá, desta vez para uma consulta. Regressei outras vezes para almoçar aquelas refeições vegetarianas que só a I. sabe preparar.
E passou a ser visita semanal, para o grupo onde eu estava, os cursos que fazia. Um deles, o mais especial, começou no início da minha primeira gravidez e culminou com o nascimento da minha filha. Talvez tenha sido a criança que mais meditou na gestação. :)
Alguns meses depois tomei a decisão de largar o seguro pela aventura, pela descoberta, pelo melhor de mim. E o Universo respondeu-me com tamanha generosidade! Um dos gabinetes daquele espaço mágico estava vago, à minha espera! Aluguei-o. Pintei as paredes três vezes mais altas do que eu. Comprei cada móvel, cada peça de decoração. Escolhi a dedo os livros que para lá levaria. E iniciei a minha nova vida.
Foi lá que tive a minha primeira cliente, numa viagem de autodescoberta e magia inacreditáveis. Foi lá que me identifiquei com cada pessoa que entrava e se sentava naquelas cadeiras que, segundo alguém, "já faziam parte do processo".
A determinada altura a energia do local começou a mudar. Ainda não sei o motivo exacto, mas todos o notavam. E algo em mim soube que seria o início do fim.
Ontem fui desmontar cada pedaço de memória, guardar as gargalhadas que ecoavam pelos corredores, vazar as lágrimas que, por vezes, também eram minhas. E trancar as portas.
O Nosso Espaço já não existe.
Mas acredito que ficará no coração de todos que o conheceram no seu esplendor.
quarta-feira, agosto 12, 2009
Estrelas cadentes
sábado, junho 13, 2009
Musica ao Sábado
Eu sei que o sábado já vai tarde, mas ouvi isto na rádio e TIVE que vir postar.
Esta trás-me mil e uma memórias.:)
Continuação de bom fim de semana!
sexta-feira, abril 24, 2009
Amarguinhas
Lembram-se disto?
Se não me engano, estávamos em 96. O ano que chamei, durante muito tempo, o ano que poderia não ter existido... já mudei de ideias, claro! :)
Estava em pleno desgosto de amor. Foi o ano em que a Xana esteve quase para desistir do Duarte. O ano em que tudo o que eu queria era que me deixassem em paz e a minha relação com as minhas duas amigas estava um caos. O último ano que passámos sozinhas na Praia, antes de eu perder o meu lugar seguro. Não estava fácil.
Mas havia aquelas noites de sexta e sábado. Em que colocávamos esta música, escolhíamos a dedo a roupa para sair, pintávamos os olhos, colocávamos os perfumes favoritos e preparávamo-nos para abrir a pista do Waterfront. Era nos momentos em que nos vestíamos que nada mais importava. Naquela altura não havia corações quebrados, amizades tensas ou solidão. Éramos apenas aquilo. Três amigas que se preparavam para curtir a noite.
A ansiedade começava a chegar quando estávamos quase prontas. Quem apareceria? Estaria lá o Ricardo, que nos deixava ditar-lhe a playlist para toda a noite? O Alex e as suas bebidas de graça? O Sr. Zé com a grade de ginginhas que guardava religiosamente todos os Verões? Seria uma daquelas noites em que dançaríamos como se não houvesse amanhã e acabaríamos a ver o por-da-lua? Ou a tentar "cravar" um cachorro quente ao rapaz da roulotte? Tínhamos lata para tudo.
E acabasse a noite com um sorriso ou muitas lágrimas (geralmente com a ajuda de muito álcool), nenhuma de nós trocaria aqueles momentos por coisa alguma.
Just girls...
quarta-feira, abril 08, 2009
I Hate...
Estranhamente, ouvi no carro uma série de músicas oriundas desses anos e que me fizeram sorrir (não, não estava a ouvir a M80).
Mas resolvi rir-me um bocadinho e vou postar uma música que, não sendo das minhas preferidas, faz-me sempre lembrar alguém de quem eu gosto muito, de quem gostav mais ainda nesses anos, e que costumava delirar com isto.
Enjoy!
quarta-feira, março 11, 2009
A primeira aventura do "meu banco"
Numa noite, sentados os quatro naquele espacinho verde, a Kayla diz:
- Nestas noites sem luar, até é difícil ver o mar. Está tão longe.
O D. olha para ela com o habitual ar de gozo:
- Vê lá, não queres o banco lá em baixo, ao pé da maré?
Mas esta frase foi o suficiente para que ele e o A. trocassem aquele olhar e começassem a rir.
E perante os nossos risos e incredulidade, pegaram no banco e levaram-no até beira-mar. E sentámo-nos lá, rindo que nem doidos e usufruindo do mar e das estrelas, numa noite mágica, igual a tantas outras.
Claro está que se recusaram a trazê-lo de volta, quando voltámos para casa. E na manhã seguinte, não conseguimos evitar as gargalhadas ao ver um banco de madeira à beira-mar, junto às pessoas que chegavam cedo à praia e o fitavam, abismadas.
Dois dias depois, uns senhores (provavelmente da Câmara) voltaram a colocar o banco no lugar e encheram-no com uma camada de cimento tão grande que ele permanece no mesmo local até hoje. E não voltou a ir até ao mar, por mais vezes que tivéssemos tentado...
P.S. A bruxinha da foto é a minha princesa. Bruxinha, mas de cor-de-rosa, claro! ;)
sexta-feira, fevereiro 27, 2009
Locais sagrados...

terça-feira, fevereiro 17, 2009
Selvagem
Ele dava nas vistas porque era muito alto, muito magro, tinha um cabelo comprido e parecido com a juba de um leão, cor e tudo. Foi por isso que eu e a BC lhe demos a alcunha de Selvagem.
Vínhamos muitas vezes juntos no comboio, pois morávamos perto. Surfista, bem disposto, tinha uma visão positiva do mundo e do futuro. Não fumava, não bebia, não consumia drogas e costumava dizer, na brincadeira, que o único vício que tinha eram os Sunday's de Caramelo. Comia sempre dois de seguida.
Era daqueles rapazes de quem nos sentíamos bem, perto. Muito sincero, usava poucas máscaras, adorava rir. Recordo-me de inúmeras aventuras que passámos juntos. Foi ele que me apresentou Dead Can Dance, Lorenna McKennit e outras coisas de que ainda gosto bastante.
No ano seguinte, outras pessoas chegaram e, por algum motivo, as escolhas do Selvagem mudaram. De início não foi um problema, continuava a adorar a vida e a experienciar tudo intensamente. Devido à mudança dos seus hábitos, tornou-se, também, meu companheiro em algumas noites de bebedeira e risos até de madrugada.
De início não foi um problema. Não a bebida, não o fumar, nem as ganzas. Mesmo quando parecia que ele já não sorria sem elas. As histórias estranhas sobre os chás alocinógenos. As faltas aos exames. Os semestres adiados.
A estranha viagem a França, supostamente por quinze dias, onde esteve dois meses desaparecido. E o regresso, quando já não o encontrei.
Regressou em corpo. Deixou lá o sorriso, os planos de futuro, a visão positiva do mundo, o olhar. Deixou lá a alma.
Nas poucas vezes em que estivemos juntos, depois disso, não reconheci os seus olhos. As palavras que proferiu não me fizeram sentido. Conhecia-me, mas nunca tive a certeza de que me reconheceu. O olhar meio vazio, com rasgos de lucidez causavam-me uma dor que regressa a cada vez que penso nele.
Recebo notícias, por um amigo comum. Vive na casa dos pais, joga à bola com os miúdos, na rua.
E questiono-me onde terá ficado a sua alma, nesta viagem, e porquê! Sinto a falta do meu amigo...
terça-feira, fevereiro 10, 2009
Faculdade de Ciências Médicas...
Recordo-me que, no carro do V., existiam imensas garrafas de vodka que tinham sobrado das férias na Areia Branca. Recordo-me que ficámos no jardim do Campo Santana a saborear Vodka com laranja, antes de entrar. Recordo-me que eu e a Sayuri queríamos dançar espanholada, tal era a alegria alcoólica.
Quando entrei já levava aquele característico sorriso estúpido na cara.
A noite foi estupenda. Entre o cravar bebidas no bar, dançar que nem loucas e meter conversa com toda a gente, todos pareciam adorar-nos. O problema foi que nós também adorámos aquela Faculdade cheia de gente simpática, divertida e que parecia tão bem disposta. Gostámos tanto que fomos ficando,e pedindo mais musicas, e ficando,e ficando.
E a festa acabou e eles começaram a arrumar a sala... e nós lá. E eles a tirar as mesas que faziam de bar... e nós lá! E eles começaram a pedir-nos para sair... primeiro de uma forma simpática, depois um pouco mais assertivo-agressivo e finalmente imploravam-nos que nos fossemos embora.
E foi quase à saída o momento zen da Lita. Por motivos de força maior, hoje esta história já não me faz rir, mas na altura teve a sua piada. Um rapaz da Tuna, com quem já tinha conversado nessa noite, diz-me:
- Psicologia, não é? Conheces o professor X?
E eu:
- Esse? Odeio-o, é o gajo mais asqueroso que por lá anda. Tem a mania que é melhor que todos, arrogante, vaidoso, a mania de falar em inglês nas aulas, apesar de ser tão português como eu! Um verdadeiro idiota! Porquê?
- Ah... é o meu pai.
E eu literalmente escondi-me atrás da BC., envergonhadíssima e a rir desalmadamente, enquanto ele sorria e dizia estar habituado a tais comentários...
domingo, fevereiro 08, 2009
O prometido é devido
Naquele trilho secreto
Com palavras santo e senha
Eu fui lingua e tu dialecto
Eu fui lume e tu foste lenha
Fomos guerras e aliancas
Tratados de paz e péssangas
Fomos sardas pele e trancas
Popeline seda e ganga
Recordo aquele acordo
Bem claro e assumido
Eu trepava um eucalipto
E tu tiravas o vestido
Dessa vez tu nao cumpriste
E faltaste ao prometido
Eu fiquei sentido e triste
Olha que isso nao se faz
Disseste que se eu fosse audaz
Tu tiravas o vestido
O prometido é devido
Rompi eu as minhas calcas
Esfolei maos e joelhos
E tu reduziste o acordo
A um montao de cacos velhos
Eu que vinha de tao longe
( do outro lado da rua )
Fazia o que tu quisesses
Só para te poder ver nua
Quero ja os almanaques
Do fantasma e do patinhas
Os falcões e os mandrakes
Tao cedo nao teras novas minhas
sexta-feira, janeiro 09, 2009
Das Palavras
Recebi um e-mail dele por acaso. Pedia-me informações sobre um tema acerca do qual eu costumava escrever, num site. Eu respondi e devo ter-me inspirado.
Ele voltou a escrever, agradecendo e salientando ter gostado da forma como eu me tinha expressado, especialmente porque se tinha identificado com o que eu dizia.
Sem nos darmos conta, os mails continuaram, trocávamos ideias, sonhos, conselhos, histórias. E passámos dias, semanas, meses, anos nesta troca. Aquela pessoa, que eu nunca tinha visto, era o meu confidente, o meu amigo. Não tinha qualquer vontade de o encontrar, achava que iria mudar tudo, que ele seria diferente do que eu esperava, que nos desiludiríamos facilmente. Que ele, na verdade, não me conhecia.
Então, um dia, soube de um workshop sobre uma área que me interessava, e ele disse que ia. Soube que o iria ver, o que me assustou muito. O meu sonho ia acabar. O meu amigo podia não ser nada do que eu conhecera até ali.
Ainda combinámos encontrar-nos antes, mas não aconteceu.
Entrei no edifício juntamente com mais 5 raparigas que iam para o mesmo workshop. A facilitadora era amiga dele, confidente, e sabia desta história. Assim que disse o meu nome, ela sorriu e pediu-me para ficar junto das outras. Chamou-o e disse:
- A., uma destas é a Lita. Consegues descobrir qual é?
Ele hesitou. Não mais de 5 segundos. Assim que os olhos pousaram em mim sorriu e disse:
- É esta. Conheço-lhe a alma.
E deu-me um abraço que foi adiado por anos.
quinta-feira, janeiro 08, 2009
Mais uma vez com vontade de enterrar a cabeça num buraco...
Na noite em que o conheci, levou-me a casa. Conversámos durante horas e descobrimos que tínhamos crescido, ambos, na mesma praia, cada um em lados opostos.
- A minha casa é lá em baixo, a seguir ao largo. -disse-me. - É fácil de ver, fica do lado da Ria, uma casa branca com uma risca amarela, tipo ovo estrelado.
Obviamente, como rapariguinha nada controladora que era (...), no dia seguinte, lá convenci as amigas a partirem comigo à descoberta da casa dele. Passámos o largo e, silenciosamente, lá fomos pé ante pé, até descobrirmos o "Palácio do Príncipe."
- Não façam barulho, já podemos ir embora! - balbuciei, perante a descoberta. Ainda não sei o que raios pretendia com aquele passeio, mas de certeza que foi muito importante na altura...
Nessa noite, voltámos a encontrar-nos na discoteca. Cerveja, música, o deslumbramento habitual, o riso dos amigos, e eis que começam a combinar um jogo de King, para uma noite próxima.
Eu - Adoro jogar King. Também quero!
E ele, olhando-me directamente nos olhos:
- Passa lá em casa, então. Já sabes onde é, uma vez que estiveste lá esta tarde...
Os amigos a disfarçar sorrisos e eu a perguntar-me se já teria atingido o último nível da versão "vermelha que nem um tomate!"
quarta-feira, janeiro 07, 2009
Porque é que não se deve tentar ajudar amigas apaixonadas...
Eu e ela simpatizámos uma com a outra nos primeiros dias. Era simples, aberta, divertida. A companhia ideal.
Apaixonou-se por um dos rapazes, que tinha ficado com o horário da noite. Lá o via nas aulas do anfiteatro, mas pouco mais do que isso. No entanto, logo que chegávamos a casa, ligava-me e grande parte da conversa era sobre ele... e durava horas...
Segundo semestre. Troca de horários, e eis que o "príncipe encantado" vem para o mesmo horário que nós. Apesar de feliz, ela tornou-se mais tímida do que nunca. Nem conseguia dizer o nome dele e não admitia, da parte de ninguém, qualquer conversa sobre o assunto.
A verdade é que o rapazito dava nas vistas e, numa Faculdade em que 99% dos alunos é do sexo feminino, não era difícil que o ele estivesse sempre rodeado de raparigas. E a minha amiguinha cada vez mais infeliz.
- Olha lá, deixa de ser parva! - disse-lhe, um dia. - Somos todos colegas, que mal pode haver em meter conversa com ele?
E praticamente forcei-a a sentar-se na mesma mesa que ele, às refeições. Íamos para perto dele, nas aulas. Como ela parecia muda, eu mesma metia conversa e pouco depois falávamos perfeitamente com o rapaz, bem simpático, por sinal!
O tempo foi passando e a paixão da minha amiga também. A verdade é que nos demos mesmo muito bem com ele e, juntamente com outras pessoas, formámos um grupinho que se dá até hoje. Apesar da BC. não admitir, ainda hoje, que alguém fale da sua paixoneta.
Um dia, num jantar, eis que o "príncipe encantado" se vira para mim com um sorriso e diz:
- Tu, no primeiro ano da Faculdade, tinhas uma pancada por mim!
Estupidifiquei a olhar para ele:
- Estás doido? Que conversa é essa?
E ele a rir:
- Oh, Lita, admite! Achas que não se notava? Vieste meter conversa comigo e tudo!...
E, do outro lado da mesa, a minha BC a rir-se que nem uma perdida e a fazer-me sinal para que eu não lhe contasse a verdade.
Resultado: por mais que o tente convencer, sem "trair" a minha amiga, é impossível. Até hoje, o rapazito acredita piamente numa paixão que nunca existiu!!!!
segunda-feira, janeiro 05, 2009
A verdadeira crise...
Muitos jantares foram feitos de sobras, e recordo-me de quando começámos a procurar o que havia de mais barato no supermercado. Descobrimos, entre outras coisas, que pescoços de peru são enormes e baratíssimos... :) Nesse dia fizemos massa e pescoços de peru com molho de tomate. As refeições seguintes foram massa com o molho dos pescoços de peru!
A pior noite foi aquela em que, chegada a hora do jantar, tínhamos em casa um melão... e uma tablete de chocolate!
Para piorar a situação, a Xana estava, mais uma vez, zangada com o Duarte, a Kaila em depressão por causa do trabalho e eu... digamos que aquele, não foi o Verão mais feliz da minha vida! As visões negras da vida, a falta de dinheiro até os meus pais chegarem para nos encher o frigorífico e aquele jantar miserável pôs-nos, às três, a chorar!!!!! Claro que não parámos de comer por causa disso!!!!
Eis que chega o Duarte com um amigo que não conhecíamos. Assim que entrou, disse:
- São estas as amigas que te falei.
O rapaz olha para nós, atónito, perante a visão de três raparigas a chorar desalmadamente, sentadas à mesa.
- Olá! - disse a Kaila,a chorar.
- São servidos? - perguntei eu, a fungar.
- O que é que estão a comer? - perguntou o desgraçado.
- Melão com chocolate. - respondeu a Xana. - Ainda sobrou uma fatia, queres?
Ele fez que não com a cabeça e pouco falou, ao longo da noite. Por algum motivo desconhecido, não voltou a aparecer lá em casa!
sexta-feira, janeiro 02, 2009
Humilhação pública nº 1
Por isso, eu e a Kaila encontrámo-nos à hora habitual para ir para a escola. Éramos da mesma turma, no 6º ano.
Kaila - Achas normal a rua estar deserta, a esta hora?
Eu - Normal, não acho... é hora de entrada. O autocarro hoje tem de ir por outra rua.
Kaila - Mas porquê? Não vejo água.
Eu - Nem eu. Só está ali aquela lama...
Continuámos a andar, em amena cavaqueira, sem reparar que o portão central da escola estava fechado. Continuámos a andar, mesmo quando os sapatos ficaram sujos de lama.
Kaila - Isto está mesmo cheio de lama.
Eu - Não é motivo para toda a gente desaparecer.
Kaila - Tens toda a razão. Vamos continuar.
E eis que, de repente, ficámos enterradas até aos joelhos. Enterradas na lama!!!!!
Eu - Se calhar é melhor dar-mos a volta, Kaila...
Kaila (a rir desalmadamente) - Acho que perdi um sapato.
Eu (a rir) - Bem, então se calhar... o melhor é voltarmos para minha casa... por outra rua...
E a rir que nem umas perdidas... lá fomos, imundas... pela rua onde TODA a gente seguia para a escola, onde o autocarro CHEIO de colegas nossos passou e onde o rapaz de quem eu gostava se levantou, a rir à gargalhada, para nos ver passar!!!!
quarta-feira, dezembro 31, 2008
A Borrega e as outras 5
Enfim, naquele dia resolvemos concorrer ao peddy-papper. Só nós, as raparigas. E tínhamos de arranjar um nome para o grupo. Dos mil e um nomes sem gracinha nenhuma que nos surgiu, eis que a BC. se salta com um.
- As borregas! O que é que acham? É muita giro!!!!
E, nós, meio boquiabertas, a olhar para ela.
- Estás a gozar, não estás?
- Esse nome é a sério?~
E a BC.:
- Não gostaram? Mas é tão giro, pá! Eu quero esse, as Borregas! É para gozar, é mesmo o máximo!
E a C., que nunca achou muita graça a esse tipo de coisas, foi preencher o papelito e dá-lo aos jovens que organizavam a coisa.
Quando chegou a nossa vez, eles chamaram:
- E o próximo grupo chama-se: A Borrega e as outras 5!
O que vale é que a boa da BC. tem muito bom humor e fartou-se de rir com a cena!
terça-feira, dezembro 30, 2008
Engraçadinha!
Mas foi a primeira mini-série brasileira a passar em Portugal com um conteúdo erótico um tanto ou quanto explícito. Começámos por ficar as três a vê-la.
O Duarte e o Ponga vinham ter connosco e ficavam. Depois, acabou por vir o Alberto. E a Ana, a Sílvia, o Joãozinho... e acabámos por ter a casa e o pátio cheio de adolescentes que chegavam sempre à hora de ver a Engraçadinha...
Devíamos ter dado um nome à casa, nesse tempo: A Casa das Hormonas Saltitantes!!!
Engraçadinha. Lembram-se dela? ;)
segunda-feira, dezembro 29, 2008
O efeito de um homem bonito...
Não sei se reparou e o fez propositadamente, mas levou a mão aos bolsos, olhou para as moedas e aproximou-se.
- Per favore... - a voz, para além do sotaque sexy, era grave. - O que posso comprar com isto?
Abriu a mão e mostrou-nos duas moedas de 20$00 (o euro não era nascido, ainda...).
Ainda "a babar", eu e a Xana olhávamos para a mão dele e novamente para o rosto, incapazes de fazer trabalhar o cérebro.
A Kaila se aproximou, pegando num pacote de amendoins e entregando-lhe:
- Isto!
Foi nessa altura que ela reparou no tipo, entrando na mesma estranha letargia que nos tinha levado os neurónios.
Ele sorriu.
- Gazie!
E nós três fizémos aquele ar ridículo, sorrindo, abanando a cabeça e deixando a baba cair, enquanto ele regressava ao restaurante.
terça-feira, dezembro 16, 2008
Eu, ele e a Marta - take 2
- De Massamá. - foi a resposta.
Virei-me e continuei no meio dos jogos que eram as chamadas "praxes". Só ao fim da manhã, quando eles se iam embora e o vi passar me lembrei.
- Olha! Eu também sou de Massamá! - era verdade. Naquela altura morava lá.
Voltei a recordar este episódio uma semana depois, quando ao passar por mim, num Centro Comercial, baixou os olhos e corou até às orelhas. Achei estranhíssima a reacção dele e a amiga que me acompanhava comentou:
- Hmmmm, viste como te olhava?
Mais um encontro sincronístico, no Bairro Alto, em que ele e os amigos entraram na discoteca onde eu e os meus amigos estávamos. Uma das amigas dele ofereceu-se para me "ler a sina", alegando que já ouvira falar muito de mim. Graças a um beijo no rosto que "falhou" (na minha imaginação ingénua, pois vim a saber mais tarde que a "falha" tinha sido intencional), acabei aos beijos com ele naquela estranha noite.
No dia seguinte, convidou-me para beber um café na Faculdade e fomos conversar sobre o que acontecera.
- Tenho namorada! - disse. Não era necessária a informação, a aliança de ouro brilhara, na mão direita, a determinada altura, na discoteca.
Não soube bem o que dizer. Eu não planeara o que acontecera, nem tinha intenções de ir para a frente com aquilo. Nunca tinha estado naquele tipo de situação. Num instante, deixara-me levar por um rapaz sedutor, por uma estranha emoção, pela cerveja e pela música. Agora tudo me parecia diferente. Conversámos durante horas e foi bom.
Gostaria de poder dizer que foi o início de uma linda amizade. Mas não foi assim. Porque ele continuava a olhar-me e a corar. E escrevia-me cartas. E pedia-me que não o olhasse "assim"...
Não sou uma santa. Não o provoquei, mas a verdade é que ele também me atraía. Numa outra noite, noutra discoteca, terminámos novamente aos beijos. E noutra. E por mais vezes que nos soasse à ultima vez, continuava a acontecer.
Os bilhetes aconteciam diariamente e os telefonemas duravam horas.
- Gostaria de te ter conhecido antes da Marta! - dizia-me. - Mas não aconteceu. E amo-a. Gosto de ti, atrais-me, não me imagino sem aquilo que temos, mas amo-a.
E eu entendia, sem entender. Porque não me imaginava naquela situação, a "beber aquela água que já jurara nunca beber", porque não estava apaixonada por ele, mas a verdade é que também não me imaginava sem o que aprendêramos a partilhar. Não eram só os beijos. Era, sobretudo,a cumplicidade.
Então, um dia, noutro Centro Comercial encontrei-o acompanhado. Soube quem ela era antes de se aproximarem. Bonita, um ar simpático, nada o tipo de rapariga que se pudesse "odiar".
- É a Marta, a minha namorada. - apresentou calmamente, enquanto era a eu a corar até às orelhas. - Esta é a Lita, uma colega da Faculdade.
Afastei-me a tremer, sabendo que nunca mais seria igual. A Marta já não era uma aliança dourada e fina, brilhando na mão direita do "meu caloiro". Era uma rapariga, de carne e osso!
Não voltámos a beijar-nos. Pouco depois, foi a Marta que acabou com ele, ironicamente, porque se apaixonara por outra pessoa. Conheci a faceta dele mais mulherenga, soube que eu não tinha sido a primeira "amiga", enquanto ele fora comprometido. Mas, ao contrário do resto das raparigas que lhe vi passarem pelas mãos, nunca achei que fosse um "filho da puta" .
As nossas conversas continuaram. Os telefonemas também. Ele assistiu a outras relações minhas com um ombro amigo e eu a muitas dele, com um sorriso complacente.
Voltou para a Marta,a quem, de uma forma estranha, amava. Ela era uma rapariga digna de admiração,de facto. Nunca me dei com ela, por motivos óbvios, mas poderia ser minha amiga, noutras circunstâncias.
Hoje, eu casada e ele separado, ambos com filhos, telefonamo-nos uma vez por ano, se tanto. Falamos das nossas circunstâncias. Mas ainda lhe sinto a cumplicidade de almas, que estranhamente nos aproximou. Poderia ter sido diferente, se não existisse uma Marta. Ou talvez não, talvez fosse exactamente da mesma maneira...