Eu sei, eu sei... mas pura e simplesmente não consigo resistir. Saiu ainda há pouco, mais um daqueles livros que me leva para fora do tempo e do espaço, me faz esquecer do mundo lá fora e me acende uma pequena e (des)conhecida chama.
Memórias de fada? Alma de adolescente? Talvez, mas faz-me sonhar e sorrir... e eu não resisto a nenhuma das duas coisas.... :)
Conheciam-se há 20 anos. Viviam juntos há 11. Se era fácil? Não. Ele tivera sempre o dom de viver perigosamente. Onde havia sarilhos, ele seguia o rumo.
Ela não. Era mais calma, serena. Abria-lhe os braços e escondia-o do mundo, quando tudo parecia dolorosamente insano.
Ela conhecia-lhe os pesadelos nocturnos, os pensamentos mais obscuros. Sabia ler-lhe as entrelinhas, os silêncios profundos, as fugas à realidade. Estava com ele. Amava-o. Sabia que o amor era construído assim, entre risos e lágrimas, entre sonhos conjuntos, degrau a degrau.
Existia um elo. Invisível para os outros? Talvez, mas ela sentia-o em cada instante em que os seus olhos pousavam nele.
Um dia ele partiu. Outro amor, outra aventura, outro perigo. Ela ficou. Só, destroçada. Irreconhecível.
Levantou-se. Mudou de casa. Mudou de vida. Ainda o sentia na pele, no bater do seu coração. Esperava que ele regressasse, como nos dias em que lhe abria os braços. Existia um elo invisível. Conheciam-se há 20 anos. Conheciam-se.
Ela fez anos. Passara os últimos 11 aniversários junto a ele. Só a ele. Existia um elo que era só dos dois. O telemóvel foi dando os apitos das habituais mensagens de parabéns. Agarrava cada uma delas como uma esperança, que se convertia em desilusão. O dia passou.
Despertou no dia seguinte com um "bip". Agarrou o telemóvel. Mensagem dele. "Preciso que vás ao tribunal. Há lá qualquer coisa marcada, mas não consigo perceber o que é. Agradeço imenso. Adeus."
Fechou os olhos, rindo, para não chorar. Às vezes, não existia absolutamente nada.
Beber café num local desconhecido, com o dia todo pela frente e sem compromissos. Passear pela Baixa de Lisboa. Comprar um livro. Ir ver o rio. Ouvir-me. Receber um elogio. Ir beber um copo à noite, mesmo que seja a meio da semana. Dormir depois de uma conversa intemporal. Levantar-me com um sorriso. Passar a manhã na Serra de Sintra, respirar a vida, re-criar-me. Almoçar a salada mais deliciosa do mundo... Encontrar uma amiga que não via há muito. Deitar-me cansada e feliz. ... E voltar hoje para o trabalho....
Há pessoas que encontramos por acaso e que ficam colados à nossa existência como se fizessem parte dela. Assim foi contigo. Tínhamos... quê? 12 anos? Faltámos à aula de educação musical porque tu estavas a chorar... e desde então nunca mais deixámos de chorar ou rir juntas...
Iniciámos uma conversa, nesse dia, e tenho a sensação de que quando nos encontramos pura e simplesmente a retomamos, ainda que por carta, telefone, ainda que não nos tenhamos visto nos últimos meses. Acho que os melhores amigos se reconhecem assim... :)
De qualquer modo, sei que foi um ano difícil... sei que perdeste tudo... sei que te tentas reerguer com uma dignidade que causaria inveja a muitos. A mim causa-me admiração e alegria por partilhar contigo esta história.
Sei que o sabes, minha amiga, mas as pessoas têm o estranho hábito de poupar nas palavras e nas emoções. Por isso, o quero dizer... GOSTO MUITO DE TI!!!!!!!
Parabéns e que os 32 sejam o princípio de uma nova e esplendorosa vida!
Sabes... quando andas 24h por dia a pensar em tudo o que dizes, tudo o que fazes, a forma como sorris, quando medes a força do toque no outro, controlas quantas vezes te aproximas, para não negligenciar, nem sufocar e começas a acreditar que, se tiveres força, tudo corre bem... e há aquele momento em que tens sono, o dia foi demasiado longo, o corpo está demasiado cansado, tudo está calmo e, por uns escassos momentos, relaxas... e tudo desaba num ápice?!!!!
A Neptuna falava de definições, no outro dia. Essas correntes ilusórias de segurança, às quais nos agarramos na tentativa de não afundar no mar da indefinição.
Ao longo dos anos apercebi-me, porém (e talvez seja defeito de profissão) de que nada é definitivo, muito menos as definições. Nada é absolutamente bom, ou absolutamente mau. Não existem escolhas certas ou erradas,mas sim pesos na balança de cada um de nós, que pendem para um lado ou para outro.
Apercebi-me de que as coisas que pedimos nem sempre estão alinhadas com as que queremos. E mesmo as que queremos, podem ser fruto do anseio do coração do adulto, ou da carência profunda da criança em nós. Tão ténue é a linha da separação. Julgo-me tantas vezes por não a conseguir discernir.
Faço o que posso para respeitar a alma em mim. Permito-a sentir, expressar-se, ainda que, por vezes, sem voz. Hoje,não me apetecia fazer isso. Apetecia-me não me preocupar com os anseios ou as carências, as ilusões ou as mentiras. Viver como se não existisse amanhã. Será que me daria ao trabalho de pensar tanto?
Às vezes queria que a alma se esvaziasse da dor, da expectativa, dos sonhos desvanecidos pela onda de realidade que nos abana.
Às vezes queria abrir a boca para deixar sair o chorrilho de palavras não ditas, emoções não assumidas, gritos presos no fundo de mim.
Mas não chega.
Às vezes precisava que o outro me ouvisse, mais do que qualquer outra coisa. Precisava de ser validade pela presença de quem me dissesse: "Estou aqui. Também lá estive. Foi real."
Precisava que as minhas fantasias tivessem ecoado em alguém. Que o sonho fosse partilhado, para poder deixá-lo partir...
O sacana do Neptuno anda aí, tenho a certeza!!!!!!
Mãe deita a princesinha, dá-lhe um beijo e diz: - Se precisares de alguma coisa, estou mesmo aqui ao lado. 30 segundos depois. - Mamã, se eu tiver um "poblema", posso ir para a tua cama? - ... Sim, podes. Até amanhã. 30 segundos depois. - Mãe... tenho um "poblema". Ainda não consegui dormir nada.
Com a infância regada pelo cheiro da maresia, de peixe fresquinho ainda a saltar no fundo dos barcos e do cheiro rude e salgado dos homens do Mar, Vicente inchava de orgulho a cada elogio tecido ao seu padrinho,de quem herdara o nome.
- O ti Vicente tem mão d'ouro, para onde manda a cana, é onde eles fazem a festa.
Aqueles homens, enfiados nos gorros de lã, camisas de xadrez em flanela e botas de borracha até ao joelho, pareciam-lhe mais fortes do que os herois dos quadradinhos. Todos os dias enfrentavam o gigante azul, em busca de sustento para a família. Onde existiria maior nobreza?
Foi numa tarde ventosa de Novembro que o barco encalhou na rocha e se virou, jogando os homens ao Mar e, juntamente com eles, o pequeno Vicente, que decidira acompanhá-los.
Não houve perdas, nem feridos. No entanto, os segundos sentidos como anos, passados a esbracejar, para depois vir ao de cima e encontrar o barco virado sobre a sua cabeça, enclausurando-o na mais completa escuridão, encheram de terror o pequeno, que se convenceu de que morrera, antes dos braços fortes do ti Vicente o resgatarem da água e do pesadelo.
A partir desse dia jurou que não morreria no mar e não mais se aproximou deste, dos barcos de pesca ou das camisolas do padrinho. Ouvia as histórias dos homens,mas longe da praia.
A pesca era agora um sonho longínquo, como aqueles dos colegas de escola, que queriam ser astronautas, sabendo de antemão que não passariam do 6º ano.
Passaram-se os anos e Vicente tornou-se um homem. Saiu da escola e foi trabalhar com o pai, na loja de ferragens,seguindo as pisadas dos dois irmãos mais velhos. Era um bom trabalho, honesto, simples, sem a instabilidade da pesca ou dos mares de Inverno. Então, porque é que o seu coração, às vezes, parecia tão vazio que quase não o sentia?
Visitou o ti Vicente, que já não ia ao Mar há muito, num Verão quente e seco, daqueles em que a chuva viaja para longe sem bilhete de regresso. E o pedido do velhinho comoveu-o.
- Leva-me a ver o Mar, filho. Sabes que sozinho já não consigo.
Vicente agarrou no padrinho cambaleante, envolveu-o nos seus braços fortes e, em curtos passos, caminharam até à rocha,de onde se via o Mar.
Foi um instante em que ele olhou para cima, seguindo o voo das gaivotas. Baixou a cabeça e o ti Vicente desaparecera. Caíra, atirara-se, voara? Debruçou-se e viu o velhote esbracejando, a cabeça surgindo entre a espuma branca, numa busca desesperada de ar.
Vicente jogou-se de cabeça, sem se preocupar com nada que não aquele velho ti Vicente, que lhe iluminara a infância.
Ajudou-o o chegar à areia. Vinham os dois sorrindo. Teria o velho feito de propósito? Vicente não o poderia saber? Aquele mergulho, porém, trouxera de volta os seus sonhos.
Porque fue suficiente hablarle con los ojos desde allí. Si en ese mismo instante su vida era tranquila y feliz, la vino a revolver con bollitos y miel
Mareas en la tierra, el cielo iba cubriéndose de gris. Porque salió el torrente, el miedo y las ganas de sentir. Y quiso saborear la masa de su pan.
Revolvió su calor con su voz, con leche y azúcar se lo dio a beber. Bordeó el corazón la razón con unos besos de ron y miel. Horneó con su aliento su pelo, y caramelo parecía al terminar. Y quiso saborear la masa de su pan.
Escríbele canciones, envíale tu voz donde él esté. Vagando por su almohada le vino a visitar en sueños él. La vino a revolver y se dejo hacer.
Estampidas en la tierra, el cielo iba tiñéndose marfil. Porque brotó el torrente, el verbo y las ganas de sentir. Y pudo saborear la masa de su pan
Él revolvió su calor con su voz, con leche y azúcar se lo dio a beber. Bordeó el corazón la razón con unos besos de ron y miel. Horneó con su aliento su pelo, y caramelo parecía al terminar. Y pudo saborear la masa de su pan
"A vida é um conceito com numerosas faces. Pode-se referir ao processo em curso do qual os seres vivos são uma parte; ao espaço de tempo entre o nascimento e a morte de um organismo; a condição duma entidade que nasceu e ainda não morreu; e aquilo que faz com que um ser vivo esteja… vivo. Metafisicamente, a vida é um processo constante de relacionamentos." (Wikipédia)
Eu JURO que sou dos raros seres que não gosta de falar mal do país, que tem a ingenuidade (para muitos) ou a cegueira (para outros tantos) de acreditar que faz-se o melhor que se pode com o que se tem e que não é assim tão mau.
Mas quando temos a filha pequena doente, acordamos de madrugada para marcar a estúpida consulta no Centro de Saúde (se é uma urgência,porque raio temos de nos levantar de madrugada para marcar a consulta ao longo do dia? É uma urgência!!!!!) e nos dizem que, como não sabem se o médico vem ou não (ele tem o hábito de faltar ao trabalho sem avisar!!!!????) não marcam consultas, até porque não há outros médicos para urgências....
- Ligue por volta das 13h30 e já sabemos se ele veio ou não. Depois,se houver vaga, marca.
???? O que raios é isto? E pedem-nos para ir ao Centro de Saúde antes de ir ao hospital....
O mais triste é que um telefonema para a pediatra (aquela a quem pagamos 70 euros por consulta) resolveu a coisa em 10 minutos. Consulta marcada, conselhos dados, problema resolvido.
O que nos vale é que o sistema de saúde em Portugal continua em grande!!!!! Para quê pensar nos milhares de pessoas que não têm 70 euros para pagar e ficam com as crianças doentes,ou rumam para o hospital para esperar horas até serem atendidas, pois não tinham a cartinha do Centro de Saúde????
Para quem, como eu, alega um aproveitar intenso do presente, um auto-conhecimento consciente como forma consistente de atravessar esta existência, tenho em casa um ser com 3 anos de existência que é uma verdadeira mestra do AQUI e do AGORA.
Depois de uma noite de febre, acordámos para um dia em que - pensava eu – tudo iria melhorar! Então vieram as dores de ouvidos, as fantásticas dores que surgem nos piores momentos e para as quais basicamente NADA ajuda. Ligar à pediatra, continuar o antibiótico,não esquecer o benuron. Enfim, encher a criança de porcaria e a mãe de preocupação. A diferença é que, enquanto a mãe mal consegue respirar o tempo todo, perante a sensação de impotência, a preocupação e a ansiedade, há um momento, a meio de toda esta “tragédia”, em que as dores acalmam e começa a dar no Canal Panda (canal exclusivo cá da casa) a música do “Viky, o pequeno golfinho” – não, não precisam de saber qual é!!!!.
E eu fui calçar-lhe os sapatos, fitando-a atónita enquanto ela cantava e dançava até a música acabar. Em seguida, voltou a deitar-se no sofá, tranquila. Não há dores, não há stress.
De facto, ser criança é um estado de graça. Elas SABEM aproveitar a vida.