Conheciam-se há 20 anos. Viviam juntos há 11.
Se era fácil? Não. Ele tivera sempre o dom de viver perigosamente. Onde havia sarilhos, ele seguia o rumo.
Ela não. Era mais calma, serena. Abria-lhe os braços e escondia-o do mundo, quando tudo parecia dolorosamente insano.
Ela conhecia-lhe os pesadelos nocturnos, os pensamentos mais obscuros. Sabia ler-lhe as entrelinhas, os silêncios profundos, as fugas à realidade. Estava com ele. Amava-o. Sabia que o amor era construído assim, entre risos e lágrimas, entre sonhos conjuntos, degrau a degrau.
Existia um elo. Invisível para os outros? Talvez, mas ela sentia-o em cada instante em que os seus olhos pousavam nele.
Um dia ele partiu. Outro amor, outra aventura, outro perigo. Ela ficou. Só, destroçada. Irreconhecível.
Levantou-se. Mudou de casa. Mudou de vida. Ainda o sentia na pele, no bater do seu coração. Esperava que ele regressasse, como nos dias em que lhe abria os braços. Existia um elo invisível. Conheciam-se há 20 anos. Conheciam-se.
Ela fez anos. Passara os últimos 11 aniversários junto a ele. Só a ele. Existia um elo que era só dos dois. O telemóvel foi dando os apitos das habituais mensagens de parabéns. Agarrava cada uma delas como uma esperança, que se convertia em desilusão. O dia passou.
Despertou no dia seguinte com um "bip". Agarrou o telemóvel. Mensagem dele.
"Preciso que vás ao tribunal. Há lá qualquer coisa marcada, mas não consigo perceber o que é. Agradeço imenso. Adeus."
Fechou os olhos, rindo, para não chorar. Às vezes, não existia absolutamente nada.
7 comentários:
Nunca é facil, mas ha umas coisas mais dolorosas que outras...Ao longe, sem saber ou conhecer, doeu-me, senti a dor de interposta pessoa...doi, quando se percebe que a ilusao aparentemente real, não deixou de ser uma ilusão...
A mim também me doeu. Tanto que tive de o arrancar de mim e colocá-lo aqui. Há histórias que nos tocam profundamente.
E é como dizes... há coisas mais dolorosas que outras.
...e assim passam-se 11 anos de vida amando,pensando, lutando junto de alguem que no fim s� existia na nossa imagina�o...
...e quando acordamos...queremos adormecer de novo...
È incrível como 20 anos se resumem a nada de um momento para o outro.
Mas a vida é assim, cheia de surpresas e constantes imprevistos.
Deixa a porta e o coração aberto, para que o novo possa voltar a entrar na tua vida, quando chegar a altura certa.
Um beijo!
É verdade... às vezes parece que as coisas desvaneceram e ninguém deu conta.
Não é a minha história, mas bem podia ser. Já dizía o Paulo Coelho "todas as histórias de amor são iguais."
Beijos.
É bonito quando a amizade nos faz entrar dentro daqueles que precisam de nós e lhes lemos a alma...
Mais bonito é conseguirmos ajudá-las... diz da minha parte á tua amiga que o poema diz "quando alguem nasce, nasce selvagem, não é de ninguem"... e se assim o é quando nascemos e somos dependentes de outros, imagina o que podemos ser quando somos independentes...
Não tem que se ver o passado com arrependimento, não podemos lá voltar, nem o podemos alterar, mas podemos aprender muito com ele... ;)
Concordo contigo. E cada um tem o seu caminho e tem de ter a coragem de o percorrer, ainda que isso implique não se ser quem os outros queriam que nós fossemos.
O que não muda a dor de cada um... :)
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