A D. Isabel partiu ontem de manhã, depois de 77 anos de uma vida dura. Não tive muito contacto com ela. A primeira vez que a vi foi há uns 10 anos e estava bastante envergonhada, pois entrei na casa dela às 3 da manhã, depois de ter perdido todos os transportes e passei a noite com o N.
Ela não fez qualquer comentário e resolveu a dissonância dentro dela começando a tratar-me por "a noiva do N.". Depois disso, vi-a mais 4 ou 5 vezes. Sempre amável e, depois de puxar conversa, com uma lágrima no olho, fruto de uma vida que não correu como esperava.
Não casou com o homem que mais amou, depois do marido falecer começou a passar dificuldades, para além do filho toxicodependente que ela se recusava a abandonar e a quem dava todo o (pouco) dinheiro que tinha. Se não a mãe a ficar com ele, quem mais o fará? A saudade dos netos é que a desgastava.
Criou o N. como uma mãe, e por isso ele lhe chamava carinhosamente Avó Isabel. Achamos que ela finalmente está em paz. Provavelmente, esta era a única forma de o conseguir, pois o cansaço da vida que levava estava de facto a matá-la. E conseguiu fazê-lo.
Gosto de pensar que ela olhou para a sua vida e viu momentos de ternura, de amor, alegria. Que não se arrependeu das suas escolhas. Que encontrou um sentido. Dói menos.
Foi amada e não será esquecida.
2 comentários:
homenagem bonita..
obrigada. Acho que era a pessoa que era bonita.
Enviar um comentário