Encontrei a E. a trabalhar numa gelataria, num final de tarde chuvoso. Olhei para ela e não pude deixar de sorrir, enquanto me vinham imagens de uma menina de 16, 17 anos, rebelde, curiosa, birrenta e difícil.
Assim que me viu, sorriu e, meio envergonhada, veio abraçar-me. Ali estava aquela mulher de 21 anos, crescida, a perguntar-me como é que eu estava e onde trabalhava, agora.
Foram dois anos especiais, aqueles em que eu e a V. criámos o "grupo de raparigas" onde, semanalmente, nos reuníamos por duas horas, para "falar da vida".
- Crescer é difícil. - disse-me enquanto limpava a bancada. - Hoje percebo que aqueles tempos não eram tão maus assim.
- Tens estado com as outras? - pergunto.
- Sim, muitas vezes. Falamos muito de como éramos e de como cada uma seguiu uma vida diferente. Mas sabes, há uma diferença entre nós e as outras raparigas da nossa idade. É que por mais difícil que a vida seja, nós conseguimos sempre saber o que é que estamos mesmo a sentir e decidir de acordo com isso, sem culpar ninguém. Isso aprendemos contigo e com a V.
Olho novamente para aquele menina-mulher com os olhos cheios de lágrimas, tentando perceber se ela tem noção de que acabou de me dar o maior elogio que eu recebi e, provavelmente, que receberei para o resto da minha vida. Sei que não tem essa noção. Mas agradeço à vida poder ter passado na vida dela, um dia, e ela na minha.
2 comentários:
:)
lindo.
eu também te sinto assim ;)
essa 'capacidade de sentir', e de entrar em sintonia com a Vida, é dos dons mais valiosos que se pode ter..
entendo-a como sendo uma inteira disponibilidade para a Vida.
és muito bonita.
ai....
... olha que eu ando um bocado lamechas, nos últimos dias!!! ;)
Obrigada, minha querida.
Como me disse um dia alguém, só a Identificação permite que vejas essas coisas.
Essa de que tu falas, és tu mesma!
És uma linda.
Enviar um comentário