quarta-feira, novembro 19, 2008

Galinha doméstica

O amor pode tudo! Até treinar galinhas...

Devia ter uns 6, 7 anos. Vivia, com os meus pais, na casa do meu bisavô, que ainda era vivo na altura, e com os meus avós paternos. Sim, é verdade, a casa era verdadeiramente grande. Grande e com um imenso jardim à frente e um quintal interior. Penso que a minha infância teve muito a ganhar com isso, tal como a imaginação, que não parou de crescer até hoje.

Para além da minha gata, tinha um coelho (já nem me lembro porquê) e um porquinho da índio, que o meu colega da terceira classe, o Nuno Gouveia, me ofereceu, também não sei muito bem porquê. Imagino que seria para se livrar das dezenas de crias que os porquinhos das índia costumam ter.

E a minha avó tinha galinhas. Poucas, mas tinha.

Ainda não sei a resposta, mas estaria, sem dúvida naquele quintal. Os animais começaram a adoecer e apareciam mortos de um dia para o outro. Ninguém o conseguia explicar. Morreu o coelho, o porquinho da índia e, por fim, as galinhas. Sobrou uma, branca e com aquele característico ar de estúpida, que as galinhas têm (perdoam-me o raio dos bichos que não têm culpa). Foi então que a minha avó, vendo a galinha doente e a caminho do mesmo destino que todos os outros, resolve salvar o animal.

Era engraçada, a minha avó. Como boa aquariana, as coisas que pareciam estranhas aos outros, para ela eram absolutamente normais. Imagino que o facto de ter sido criada por ela formatou alguma coisa em mim.

Como tal, pega na galinha e leva-a, a ela e a mim, para a nossa casa na praia. Uma casinha em madeira, pequena, com um belo pátio e, claro está, na praia. :)

E esse foi o Verão em que tive uma galinha como animal de estimação. A minha avó fez-lhe uma casa, com caixas de papelão, onde ela dormia a noite toda. De resto, andava solta pela casa, cacarejando com a alegria de passar férias na praia! Afinal não era assim tão estúpido, o bicho. Tinha o cuidado de fazer as necessidades apenas no pátio e nunca dentro de casa. Durante o dia, dormia estrategicamente num dos lados do sofá cor de laranja que estava no pátio, sempre do lado onde batia o sol. Melhorou, engordou e começou a achar que era pessoa.

Ao almoço, tentava esvoaçar para cima da mesa, especialmente na hora da fruta, pois gostava particularmente de uvas. Hoje, quando me lembrei disso, também me lembrei de que naquela altura nada daquilo me pareceu estranho, que se alguém fez comentários sobre a galinha doméstica, não me recordo, que os meus amigos brincavam com a galinha como se fosse um cão. Ainda não tinha padrões limitados para aquilo que poderia ser um "animal doméstico politicamente correcto".

Percebi depois, no meio de algum horror, porque é que não se deve adoptar uma galinha como animal doméstico. De facto o bicho ficou bom e isso foi comemorado com um arroz de cabidela que não consegui comer e não consigo comer até hoje.

Foi quando decidi ficar-me apenas pelos gatos.

5 comentários:

M disse...

...pois eu tenho algumas questões quanto a comer coelho em restaurantes...penso sempre na minha Ginja...

Ianita disse...

Espero que não te estejas a referir às cabidelas....

Eu vivo ainda hoje numa casa assim, com porcos e galinhas e galos e coelhos e perus e afins. Porém nunca fiz de nenhum desses animais animal de estimação. Sempre cresci com a certeza do destino que aqueles animais tinham e nunca me fez impressão. Ajudava a depenar as galinhas e a comê-las! :)

Kisses

Lita disse...

Sayuri, percebo-te perfeitamente...

Ianita, a mim sempre me fez impressão ver os animais a ser mortos. Sei que é hiper-sensibilidade e que não vê-los morrer não faz com que não aconteça. Excepto caracois... esses gosto de apanhá-los e de os cozinhar... terrível,não é? :)
De qualquer modo, por alguma razão me atraí o vegetarianismo...

M disse...

O quê??!! E matar toda aquela soja cheia de esperança?!, os tomatinhos cheios de vida?!, as cenourinhas recheadas de felicidade?!...as couvinhas de bruxelas, tão canitas coitadinhas?!...os cogumelos encantadores?!, o tofu imaculado?!....e o direito à vida dos vegetais hein???! ninguem se lembra dos vegetais???!!....

pronto! fim de descompensação!

Lita disse...

Sempre podes viver da luz.... ou será que a vitamina D também sofre???
LOL