sábado, novembro 15, 2008

Enleios

A MB esteve em minha casa. Veio com o namorado, que se entreteve toda a tarde com o N., entre violas, gira-discos, reason, ableton live e afins.

Com a miúda meio adoentada, vi-me restringida a um quarto de criança, um portátil, no qual não consegui elaborar uma frase decente a tarde inteira, e a M.

Fomos cordiais uma para a outra e eu tentei ocupar-me, enquanto ela lia uma história à minha filha. Os olhares trocados deixam questões sem resposta. Não com respostas que poderão não ser ditas, ou que precisam de tempo. Mesmo sem resposta. Ela continua a temer-me, a olhar-me como se eu a desnudasse facilmente. Eu continuo a não ter menor noção daquilo que sinto em relação a ela, às suas atitudes, às suas escolhas, ao facto de frequentar a minha casa e falar do meu marido, como se o conhecesse melhor do que eu. Por vezes, pergunto-me se o fará de propósito. Se necessitará de demarcar um espaço no qual, pensa, eu não tenho entrada.

Confesso que essa parte me irrita. Não o espaço que ela partilha com ele, mas a sua necessidade de o expor sempre que pode.

Do outro lado, a evidência de que, num universo paralelo, aquela mulher poderia ter sido minha amiga. Temos as mesmas raízes, histórias parecidas, gostos comuns. Falamos dos mesmos livros, dos mesmos filmes, de uma espiritualidade similar. Uma vez ela chamou-me irmã... e eu emocionei-me. De verdade.

No entanto, ela ainda odeia a vida que viveu, anda de espada em punho e percorre as suas estradas tendo o mundo e os seus habitantes como inimigos. É ai que somos totalmente opostas.

Eu amo as minhas experiências, as minhas memórias, os meus sonhos, as minhas pessoas - as que conheci e as que se cruzarão comigo. Eu reconheço, também, a minha mão, nos traços que desenharam a minha história. Ela culpa tudo e todos pelo que não lhe sorri.

Neste momento está apaixonada. Talvez o amor a adoce. E nesse percurso talvez eu tenha tempo de a conhecer melhor e perceber a confusão enublada de sentimentos que me evoca.

6 comentários:

Luna disse...

Lita... acredita, eu sei exactamente o que queres dizer com isso...
Bjos

Lita disse...

Uau! Raramente me dizem isso... :)

Ianita disse...

A verdade é que há pessoas que não cruzam bem com o nosso santo. Eu digo que tem que ver com os cheiros. A pessoa pode ter tudo para se compatível connosco, só que não é... Por algum motivo,não é...

E podemos conhecer a pessoa e até reconhecer-lhe mérito, mas há sempre qualquer coisa que não nos deixa entregar totalmente. Incoscientemente, há qualquer coisa que não nos deixa ir...

Kisses

Lita disse...

Verdade.
Neste caso, acho que é um misto de consciente e inconscientemente...

Kayla disse...

...Hummm...!??!!!!

Lita disse...

... pois...