
Estávamos em pleno Agosto e eu devia ter uns 12 ou 13 anos. Naquele ano andávamos todos juntos, dois rapazes e quatro raparigas. Para além da praia, durante o dia, e das idas até à gelataria, à noite, adorávamos fazer longos passeios.
Um deles era ir até à "Barrinha", não a nova, criada artificialmente há uns anos, mas a antiga, que ainda ficava a uns bons quilómetros da minha casa.
Adorávamos! Levantávamo-nos, mal o sol despontava, vestíamos o biquini, a t-shirt por cima, um chapéu, e lá íamos, ao longo de umas belas horas, rindo, conversando,dando um mergulho quando o calor começava a aumentar.
Chegados lá, o espectáculo sobrepunha-se a tudo o resto. O Oceano e a Ria, num encontro selvagem e intenso. Nada mais. Ali, a pegada humana era praticamente nula.
Sentávamo-nos na areia, a descansar o corpo e alimentar a mente. Por vezes, íamos ao banho. Outras, os rapazes acabavam por encontrar zonas com muito berbigão e o problema era encontrar alguma coisa para o guardar.
Finalmente regressávamos,exaustos, mesmo na hora do calor e, sobretudo, famintos. Cada um seguia para sua casa e voltávamos a encontrar-nos bem mais à tarde, para ir novamente à praia, ou jogar às cartas.
No dia anterior ao passeio, percebi, entre conversas, que nenhuma delas estava com vontade de ir e o motivo era o mesmo que o meu. Menstruação. Caminhar durante horas, ao calor, naquelas condições, não era o mais adequado. Mas tínhamos vergonha de dizer aos rapazes, apesar de não nos lembrarmos de nenhuma desculpa plausível. Finalmente, resolvemos dizer a verdade, e porque não?
A conversa foi simples. Fomos ter com eles, meio encabuladas e dissemos que não podíamos ir no dia seguinte.
- Porquê?
- Estamos com o período. Ir ao sol até à Barrinha não faz sentido, não nos sentimos confortáveis.
Eles olharam os dois para nós,um ar estupefacto,e depois um para o outro. E a reacção foi exactamente a mesma.
- Vocês são mesmo estúpidas!
- Se não queriam ir, diziam que não queriam ir!
- Agora arranjarem essas desculpas de miúdas é mesmo mau.
- Deixem estar, vamos sozinhos.
E, rodando nos calcanhares, foram-se embora furiosos e deixaram-nos abismadas a olhar para eles!
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