Saio apressada, o tempo, sempre o tempo... A mala no ombro, a pasta creme na mão direita.
Estou atrasada, mas escolho a caminhada, em vez do metro. O vento gelado do Outono é, de alguma forma estranha, um calmante.
Apresso o passo. A avenida parece mais longa do que o costume.
Chego à Praça e procuro a forma mais rápida de a atravessar. Envolve-me o cheiro cinzento, quente, guloso. Abrando subtilmente. É um odor infantil, regressivo. Um cheiro de tardes de chuva, de passeios no parque, de língua queimada. Um cheiro de mãos acinzentadas e calçadas sujas de cascas meio castanhas, ainda. Um cheiro salgado.
Paro e compro o pacote. 12. Saboreio a primeira, como se fosse a primeira vez.
O tempo é sempre relativo. E tudo o mais pode esperar.
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