quinta-feira, outubro 30, 2008

Efémero

Tinham comentado o quanto ele era interessante, sentadas no banco de madeira da estação, rindo como adolescentes que eram, a sensação, ainda que inconsciente, de que tudo era possível naquele início de Verão quente.

O rapaz, alguns anos mais velho, olhava de vez em quando e elas fingiam não perceber. K. acabou por ir comprar os bilhetes, deixando-a sozinha ali e, nesse instante, ele aproximou-se dela, sentando-se.
- Sabes explicar-me onde é que se troca de comboio para ir para Albufeira?
- Para Albufeira não é preciso trocares. - respondeu ela, tentando não rir perante o olhar incrédulo de K., ao mesmo tempo que se questionava se ele usara a pergunta para se aproximar, ou não saberia mesmo nada de comboios no Algarve. - Só trocas em Tunes, caso queiras ir para os lados de Lisboa.

Foi o início de uma conversa que durou mais de uma hora (os comboios eram bastante lentos, na altura!!!). Ele era de Aveiro, tinha duas irmãs, vinha ter com uns amigos que estavam a acampar, perguntou se queriam ir ter com eles um dia destes e elas responderam que não, que tinham casa na Ilha de Faro e passariam lá o Verão. Não era provável que fossem para Albufeira. Não lhe explicaram que tinham apenas 14 anos e que a avó dela ficaria escandalizada com a ideia de irem as duas para Albufeira em busca de um rapaz mais velho que tinham conhecido no comboio.

Ele deu-lhe a morada dele.
- Escreve! - disse. - Vamos continuar a conversa....

Ela guardou a morada com um sorriso. Sabia que não escreveria. Que existiam alguns momentos que tinham valor porque eram assim, efémeros e, por isso, ficariam como pinturas no tempo, nada desgastadas pelas teias da realidade. Não descobriria coisas nele com as quais não se identificava, as cartas não se tornariam cada vez mais pequenas e mais espaçadas no tempo, fazendo com que a amizade, pouco fortalecida, morresse lentamente. Talvez fosse ingenuidade, medo de mergulhar na vida, mas naquela altura não se questionava com essas coisas. Tinha muitas certezas, ela.

Ainda hoje, não sabe bem se essa filosofia está correcta ou era apenas uma fuga. Mas a verdade é que se recorda bem dele...

7 comentários:

Ianita disse...

E que tal pegar na morada e escrever uma carta?

Assim. Sem mais. Só um "olá. Conheci-te há uma data de anos. Como estás?"

Kisses :)

Lita disse...

LOL
Isso seria interessante. Caso eu não tivesse mudado de casa umas cinco vezes depois disso e perdido milhares de coisas pelo caminho... entre elas, algumas moradas.
Bjos

Ianita disse...

Era lindo de morrer se ele lesse o teu blog e te mandasse uma mensagem ou assim... Mesmo à filme!

:)

Lita disse...

:)
Seria lindo, sim!!!

Kayla disse...

Esta história estava nos confins da minha memória.mas lembro-me,e o meu comentário a isso é:
"" -Litaa!tô paixonaado per você!!!!!""

Lita disse...

LOOOOL
És mesmo parva!!!! LOOOOL
Essa é OUTRA história!

Kayla disse...

eu sei!
e também sei que tu sabes.lol