quinta-feira, março 12, 2009

regressos

Ela conhecia a casa, estivera lá na infância, recordava as empregadas que, vestidas com aventais brancos e toucas na cabeça, passavam a ferro, com o cheiro da comida acabada de fazer a entrar, devido à porta ao lado, que dava para a enorme copa e para a confusão de entrares e saíres.

Naquele momento, porém, a casa tinha a porta fechada, as persianas corridas e ela nem sabia bem o que lá estava a fazer. Mas precisava de ir. Rodou a maçaneta e entrou num aposento escuro, devido ao contraste com a tarde de sol, mas com a luminosidade dourada dos raios que entraram pelos buraquinhos das persianas. Olhou para ele, abismada.

Sentado numa almofada, no chão, perto de uma mesa de mistura, encarava-a com aquele meio sorriso.
- O que estás aqui a fazer? - foi tudo o que ela conseguiu dizer.
Outro sorriso.
- Já passámos por isto antes. Mas era eu que fazia essa pergunta. Respondo-te com as palavras que me dirigias: tu é que vieste cá ter.

- O que é que estás aqui a fazer?
O sorriso morreu.
- Não achaste mesmo que eu me ia embora, pois não? - o olhar mergulhou na sua alma, como dantes. - Não achaste mesmo que desapareceria das tuas memórias como se não tivesse qualquer importância. Tu não "apagas" pessoas, lembras-te? A mim não apagas...
- Estás muito certo disso.
- Assim como tu.

Ela não estava. Não tremia, não lhe disparara o coração, não tinha vontade de o esbofetear ou de lhe cair nos braços. Mas também não escondia o conforto, o calor que a abraçara desde que chegara àquele local.
Ele fez-lhe sinal para se se sentasse a seu lado.
- Agora é a tua vez de me dizeres porque é que eu estou aqui.

Respirou fundo e sentou-se. Não a seu lado. Junto a ele, aninhando-se nos seus braços, como se fosse uma coisa habitual.
- Para me abraçares.
E ele abraçou-a.

16 comentários:

Ianita disse...

Ui!

É para dar cabo de mim isto?

:/

Lita disse...

Não... loool!
:)

Estreliña disse...

Ai.. isto ate faz mal..

Anda aqui uma pessoa sem abracos, e sem miminhos... e ao ler isto fica... melancolica..

Que lindo!

Vou abracar o meu chefe e ja volto.

:)

Fenix disse...

Bem..., também quero um abraço...

izzie disse...

Começo a concordar aqui com a estrelinha e com a Fénix... "oferecer" abraços a quem tem q suportat saudades... não se faz ;)
Mas:
"Não a seu lado. Junto a ele. [...] como se fosse uma coisa habitual."
Há lugares, pessoas assim.
Beijo

Lita disse...

Estreliña, LOOOOOOOOOOOL!!!!

Fenix, tens o meu. Serve? :)

izzie, há pessoas assim. Verdade.

Fenix disse...

Sim!!!
:-)))

Lita disse...

:) BOA!!!!

Rice Man disse...

O_O Uau!... De "nonsense" este texto não tem nada, rapariga! É assombrosamente lindo! Toca-nos mesmo lá no fundo. :)

Miepeee disse...

Como eu queria um abraco :(

Devaneante disse...

Bonito, mas infelizmente há histórias com fins muito diferentes... uma coisa é verdade, não se apagam pessoas, embora por vezes se desejasse apagar...

Lita disse...

Rice Man, UAU digo eu...
Obrigada!!!! Mesmo!

Miepeee, eu dava-te... pode ser em espírito? :)

Devaneante, esta também não tem bem um final... ou um início... por isso nonsense.. ;)

Mag disse...

Meu deus, blogamiga, tu não fazes bem ideia do poder que estas palavras têm em mim! Parece que me adivinhaste...

Lita disse...

:)
Espero que tenha sido bom...

Mag disse...

O teu texto? Excelente!
O poder das palavras? Infelizmente.... :(

Lita disse...

:(