"You two are crazy to get married. Marriage ruins everything."
Miranda, in Sex and the City- the movie
Questiono-me quantas pessoas não terão já dito ou pensado esta frase. Pessoas casadas, claro.
Dou por mim a vê-la surgir na minha mente, por vezes a verbalizá-la, para ele, ou para amigas. Conheço-me o suficiente para, neste momento, ver isso como uma coisa normal, saudável como uma ida ao ginásio para relaxar... pensá-lo uma ou duas vezes por semana não é igual a pensá-lo uma ou duas vezes por hora, e essa situação também já vivi. Para além disso, não é real.
Quando "juntámos os trapinhos", o primeiro impacto foi aquele em que eu nunca tinha, sequer, pensado. A partilha de espaço. De espaço físico, psicológico, de pensamentos, de resmungos, de pratos, de lençóis. Fazê-lo durante um dia, um fim de semana, uma semana de férias, é uma coisa. Fazê-lo como rotina é outra. Discutir com alguém e continuar a habitar, respirar o mesmo espaço... verdadeiramente asfixiante.
A segunda coisa foi o comportamento dos outros. As amigas, quase por instinto, deixaram de ligar com a mesma facilidade. Os convites para sair, conversar, dançar, diminuíram. Quando me queixava, diziam-me que eu "era casada", que nos convidariam quando fosse para sairmos os dois. Uma disse-me, uma vez, que eu agora era feliz, já não precisava de sair à noite. Nunca me tinha apercebido que era infeliz, quando saía à noite... estranho.
Uma vez, uma delas, em pleno desgosto amoroso, ligou-me apesar de, desde sempre, contar com outra amiga como confidente. Quando a confrontei com isso, respondeu-me que eu entendia melhor, era casada, que precisava do conselho de alguém mais maduro. Também não me apercebi que o casamento me tinha amadurecido...
Mais tarde, numa crise conjugal, senti saudades de ser solteira, de viver sozinha, de voltar a ter um espaço só meu, de conhecer pessoas interessantes...
E foi na lenta recuperação dessa crise que descobri que não era o casamento que tinha estragado tudo. Era eu, as pessoas à minha volta que acreditavam que ser casado era ser diferente, não ter dúvidas, ou problemas, não me sentir só, não ansiar pelo inesperado. As próprias crenças que se tecem à volta deste. Sobretudo eu. O casamento tem coisas parecidas com o Natal, ou se ama ou se odeia, mas nunca se olha para ele como uma experiência única para cada pessoa.
A verdade é que as "frases feitas" não passam de desculpas. Não somos mais felizes por sermos casados ou solteiros. A felicidade tem a ver com o grau de honestidade para connosco, e o preço que estamos dispostos a pagar por isso.
Não existe um livro de reclamações para os idiotas que nos fizeram crescer a acreditar no "felizes para sempre", ou nos cavaleiros de cavalo branco. Não podemos esperar ser salvos, nem salvar ninguém. Não podemos chamar isso de amor.
A verdade é que por vezes odeio estar casada, outras vezes adoro, mas continuo a sentir-me com dúvidas, insegura, zangada, feliz. Gosto de sair sozinha à noite, com as minhas amigas, e aguento um flirt sem me sentir a pior pessoa do mundo. Continuo a ter histórias para contar, ex-namorados que coabitam a minha existência, sonhos por realizar.
Não é assim tão diferente do resto. Há uma aprendizagem implícita no que é a aceitação do outro. Fazemo-lo todos os dias. Com os patrões, os amigos, os colegas, a empregada do café. E com os cônjuges. Aprender que o nosso ponto de vista não é único, nem mais verdadeiro. E que o outro, seja ele quem for, sente a razão na sua perspectiva.
11 comentários:
:) não sou casada, mas fizeram-me muito sentido as tuas palavras. No fim de semana passado em conversa de café com uma amiga, ela verdadeiramente triste por estar a passar por uma fase bem pesada disse-me: "sabes Neptuna, já não me basta tudo o que estou a passar, senão ainda ter que ouvir comentários como 'agora que estás com alguém é que estás a ir abaixo?'" ... como se um companheiro trouxesse com ele, além do amor, uma pílula milagrosa para felicidade e resolução de todos os problemas que a vida nos apresenta. mais uma vez o mito do cavaleiro no seu cavalo branco.. há mitos muito curiosos em torno das relações. mais uma vez, gostei muito deste teu texto..!
Neptuna, há muito essa tendência. "Tu tens alguém, não tens de te queixar!!!!" Que geralmente vem seguida de qualquer coisa como "casar-me, eu? Que horror!!!!" Acredites ou não, já ouvi coisas assim!!!!
Temos tendência a colocar do lado de fora as justificações, desculpas, etc... as acções, a dita felicidade, o encontro tem de ser de nós para connosco. O resto são experiências!!!! Boas e más no mesmo pacote.
Obrigada pelo teu comentário!
Miga, que coisa tão bonita que escreveste. E que esclarecedor para mim, também (sabes disso!).
Durante muitos anos o meu maior desejo era casar, ter filhos e ser feliz. E conheci casamentos que não valem a ponta de um corno...Hoje em dia só quero é ser feliz e ter filhos (por esta ordem!) :)
:)
Faz-me todo o sentido. Até porque ser feliz não tem nada a ver com estar solteiro, casado, rico, pobre (se bem que umas comprinhas sabem sempre bem...;)).
Já agora, só para brincar, eu também conheço vidas solteiras que não valem a ponta de um corno. Once again, tem a ver com a pessoa que os vive... para mim!
Sou solteiro e como nunca vivi essa experiência não me posso pronunciar muito. Mas por aquilo que vejo, há muita gente que nunca deveria ter casado... ou casado mal! A solidão acompanhada... a pior das solidões!
Beijocas Lita
Isso é verdade. Solidão acompanhada... se bem que,pela minha experiência de solteira, muitas vezes a senti num grupo de amigos.
Para quem se sente mal acompanhado, a solução é simples. Muitas vezes, o preço parece é demasiado, ou demasiado assustador. :)
Bjos
Bem, acho que a partir de agora vão chover e-mails a pedir conselhos matrimoniais... ;)
Eu sobre este assunto sinto-me deslocada!
Beijinhos
LP, LOOOOL!
Bj
Bem, este teu texto está muito bom. Estou como o Pedro Barata, não me posso pronunciar muito, mas ao ler o que escreveste senti que são palavras que têem toda a lógica e sentido... :-)
beijinho
Belíssimo este texto, adorei!
Alguém, muito obrigada pela visita e pelo comentário. :)
Vanessa, obrigada!
Enviar um comentário